Meio jurídico precisa ampliar uso de soluções digitais, afirma Richard Susskind na Fenalaw 4.0

Richard Susskind, presidente da Society for Computers and Law

Autor proferiu a palestra de abertura do evento, que ontem discutiu também o impacto da tecnologia nos escritórios durante a pandemia, os rumos da publicidade e as vantagens do coworking na advocacia

“A pandemia do novo coronavírus acelerou o processo de automação nos escritórios jurídicos, ao mesmo tempo em que provocou um acúmulo de processos nos tribunais. O grande desafio hoje é o de ampliar o acesso à tecnologia para superar este obstáculo. Todo o meio jurídico precisa olhar pela lente tecnológica.” Esse é o diagnóstico de Richard Susskind, autor mais citado no mundo sobre o futuro dos serviços jurídicos e presidente da Society for Computers and Law. Ele proferiu a palestra de abertura da Fenalaw 4.0 Xperience – Transformando o Setor Jurídico Através do Digital, que acontece até quinta (dia 15) em formato 100% digital.

O mundo, frisa o especialista, continua a trabalhar, mas não da maneira tradicional. “Agora, os escritórios tradicionais sofrem com as transformações e os advogados precisam conhecer os recursos digitais, pois eles se tornaram uma ferramenta essencial. Os gastos com tecnologia jurídica superam hoje US$ 1 trilhão de dólares em todo o mundo. Ainda é pouco e estamos no início. As empresas têm que encontrar o seu caminho e investir. A tendência é que haja cada vez mais a automação do setor”, aponta.

Richard Susskind reforça que a pandemia mudou, também, o modo de atuação dos advogados, com a tendência de um maior uso das tecnologias para capacitação, mudando a experiência e a comunicação com o cliente.

“Estamos saindo do aconselhamento individual para o desenvolvimento de produtos e experiências legais mais abrangentes, como, por exemplo, resoluções online. As tecnologias vieram para ficar e a Covid-19 acelerou o processo”, salienta.

Com a pandemia, os tribunais foram fechados e os processos se acumularam. “Só 46% das pessoas têm acesso à Justiça em todo o mundo e a crise ampliou o problema. Antes, já havia oito milhões de casos acumulados. Como resolver isso? Ampliar a utilização de plataformas digitais, assistência e tribunais remotos, audiências por meio de teleconferência. Assim teremos uma justiça mais justa e distributiva para toda a sociedade”, conclui.

Painel discute impacto da tecnologia nos escritórios

O tema também fez parte dos debates do painel “Tecnologia a Favor da Prestação de Serviços Jurídicos”, que integra a programação da Fenalaw 4.0 Xperience. O encontro reuniu Fernando Prado, gerente jurídico da Pepsico, Lisa Worcman, sócia da Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga Advogados, Benedito Vilela, gerente executivo Sênior do Grupo CIMED, e Daniel Becker, sócio da Lima & Feigelson Advogados.

“Nosso escritório já estava inserido em um conceito de Advocacia 4.0 antes da pandemia. Quando 1.300 pessoas migraram para o home office do dia pra noite, a segurança da informação nas comunicações, os arquivos digitalizados e a utilização de muita Inteligência Artificial e automação foram essenciais na transição. De modo geral, a pandemia potencializou o olhar para a inovação”, destaca Lisa Worcman.

Para Daniel Becker, o caminho é o de sempre se reinventar na prestação de serviços jurídicos. “A dinâmica das empresas mudou. Hoje estamos atraindo profissionais de outros setores alheios aos serviços jurídicos para promover a resolução de problemas. Temos uma aceleradora de startups que já financia mais de 15 empresas para fomentar a inovação”, salienta.

Fernando Prado, da Pepsico, vai além: “O futuro prevê que o advogado saiba de tecnologia, não só preparando petições, mas programas. Na empresa, temos procurado construir materiais por meio do Visual Law, e não o material jurídico tradicional, que costuma ser muito mais denso. Visual para as pessoas entenderem a questão jurídica por meio de gráficos, imagens. E temos recebido um apoio interno muito grande”, comemora.

A advocacia não pode ser produto de prateleira

A atualização do Provimento 94/2000 da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que regula a publicidade, a propaganda e a informação da advocacia, é uma das principais prioridades da entidade. A afirmação é de Ary Raghiant Neto, secretário-geral adjunto e corregedor geral da OAB nacional, que participou do painel “MKT – Os Novos Rumos para a Publicidade na Advocacia”, coordenado por Juliana Pacheco, sócia-fundadora e consultora JP Gestão Legal, e que integra a programação da Fenalaw 4.0 Xperience.

“O provimento está desatualizado, principalmente por não abranger as mudanças promovidas pela transformação tecnológica. O texto precisa, também, levar em consideração as peculiaridades de cada região do país. O que interessa para advocacia dos grandes centros é diferente do que importa para a advocacia no interior do país. Enquanto os jovens das capitais estão preocupados em utilizar as mídias sociais, no interior ainda a mídia tradicional como rádio e jornal é presente”, explica Raghiant Neto, que coordenou um grupo de estudos para renovar a publicidade na advocacia.

Ele reforça que o novo provimento deve abordar a utilização das ferramentas digitais, de forma que se possa alcançar um número maior de pessoas, mas alerta: os princípios do código de ética, que estabelecem limites para a publicidade, não podem ser afetados. “Temos que pensar em modelos dirigidos para segmentos. Não podemos transformar a advocacia em um produto de prateleira de supermercado”, aponta.

O coworking é viável na prestação de serviços jurídicos?

Organizar um grupo jurídico de trabalho, reunindo profissionais independentes e em regime de coworking para atender determinado cliente, sem necessidade de abrir sociedade e livre de burocracias, é possível? A provocação foi feita por Sérgio Fadel, diretor da Maxpromo, durante o painel “Como Conquistar Novos Clientes”, que integra a programação da Fenalaw 4.0 Xperience.

Para Charles Betito, CEO e founder da MINDstation, o formato é viável, mas precisa de alguns cuidados: “A grande questão é como comunicar isso para o cliente, como passar a percepção de valor em relação ao atendimento tradicional. A solução nova precisa vir acompanhada de certezas. Passamos por um processo de mudança muito intenso. A visão do especialista era muito importante e hoje temos um olhar mais sistêmico, juntando pessoas com formações diferentes”.

André Arcas, especialista em apresentações e persuasão, compartilha da mesma opinião. “O comprometimento com o resultado aumenta. Para trabalhar por projetos é fundamental que todo o processo esteja conectado. Se um dos envolvidos não cumpre um compromisso, afeta todo o trabalho. Eu teria cuidados com esta estratégia”, nota ele.

Evento terá 80 horas de conteúdo até quinta (15)

A Fenalaw 4.0 Xperience – Transformando o Setor Jurídico através do Digital é referência para o mercado e o mais tradicional evento do setor jurídico há 17 anos. Até quinta (15), serão 80 horas de conteúdo em 79 painéis, quatro salas simultâneas e mais de 200 palestrantes em uma extensa programação voltada para segmentos como Departamentos Jurídicos, Escritórios [PME], Marketing, Gestão de Pessoas e Liderança, Tecnologia e Inovação e Direito Digital.

O participante tem acesso aos painéis com transmissão ao vivo e apresentações exclusivas com especialistas do setor, divididos em quatro salas virtuais com diferentes temáticas durante os três dias de realização; além da possibilidade da comunicação via texto, áudio e vídeo com os representantes das marcas patrocinadoras.

Com o uso da inteligência artificial, a nova plataforma Xperience, desenvolvida pela Informa Markets, organizadora de eventos responsável pela Fenalaw, há recursos de Matchmaking de acordo com os interesses de cada participante, recomendando interações com marcas patrocinadoras e outros participantes. A página feed também irá conter uma timeline ativa para posts e interações na rede social.

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