Caso Americanas: a persistente crise reputacional e a desconfiança dos consumidores

O escândalo na empresa destacou falhas significativas nos processos de auditoria e governança corporativa. Será preciso adotar uma abordagem proativa para reconstruir lentamente a reputação e restaurar a confiança dos consumidores. A primeira atitude é reconhecer publicamente os erros e indicar os responsáveis pela fraude.

Patricia Punder (*)

Depois de mais de um ano do escândalo envolvendo a empresa Americanas e seus acionistas majoritários, sem nenhuma responsabilização até a presente data, no dia 26 de fevereiro de 2024 foi publicado o balanço parcial desta empresa. Não foi uma surpresa notar que novos prejuízos milionários apareceram, assim como o abalo da confiança dos consumidores, que deixaram de realizar compras no formato online.

O escândalo de fraude abalou significativamente a confiança dos clientes, pois existem, até a presente data, preocupações sobre a transparência e a integridade desta empresa. Os consumidores, que antes viam a Americanas como uma marca confiável e estabelecida, agora estão muito cautelosos ao realizar transações com a companhia. O escândalo destacou falhas significativas nos processos de auditoria e governança corporativa, levantando questões sobre sua capacidade de proteger os interesses dos acionistas, clientes e fornecedores.

A Americanas continua a sofrer os resultados de sua crise reputacional. Pois a reputação de uma empresa é um ativo valioso que pode influenciar a confiança dos consumidores. No caso da Americanas, o escândalo e a falta de definição dos responsáveis pela fraude contábil continuam a alimentar a crise reputacional, onde a empresa deixou de ser uma marca confiável e respeitada.

A ausência de transparência e prestação de contas por parte da alta administração da empresa continua a contribuir para a percepção de que os clientes podem não estar sendo protegidos adequadamente. Como resultado, muitos consumidores optaram por buscar alternativas de compras, evitando a Americanas em favor de concorrentes que se mostram confiáveis e transparentes. Além disso, a reputação manchada da empresa afeta sua posição no mercado a longo prazo. Sua sobrevivência está em risco, apesar da recuperação judicial e do acordo com os credores.

Para enfrentar a crise reputacional, a Americanas precisa adotar uma abordagem proativa para reconstruir lentamente sua reputação e restaurar a confiança dos consumidores. Sendo a primeira atitude reconhecer publicamente que errou e indicar os responsáveis pela fraude.

O atraso na publicação do balanço parcial, somado ao fato de que faz um ano que há uma empresa investigando o ocorrido e de que ela continua a conduzir os negócios como se nada houvesse ocorrido, demonstra que a empresa ainda não está comprometida com a legislação em vigor e com uma conduta transparente para o mercado.

Somente através do compromisso com a ética, a transparência e a responsabilidade empresarial, a Americanas pode começar a reconstruir sua reputação e restaurar a confiança dos consumidores.

(*) Advogada e CEO da Punder Advogados. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP).

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