Empresários do futuro devem possuir sólida formação nas soft skills, as habilidades comportamentais, segundo avaliação de especialistas ouvidos em pesquisa do Sebrae
Criatividade, inovação, empatia e uma visão sustentável e holística do mundo. Essas são algumas das principais características que os empreendedores precisarão desenvolver para serem bem-sucedidos nos próximos cinco a 10 anos. O perfil foi traçado por pesquisa do Sebrae realizada a partir de entrevistas com especialistas em gestão e empreendedorismo do país.
O empresário do amanhã precisará ter forte formação nas chamadas Soft Skills (habilidades comportamentais, que envolvem aptidões mentais, emocionais e sociais); pelo menos o “nível básico” em Hard Skills (habilidades teóricas e profissionais que são quantificáveis, como domínio de tecnologias de informática ou capacidade de utilizar ferramentas de análise de dados de mercado, por exemplo), conhecimentos sólidos sobre técnicas de gestão, além de noções básicas de TI e novas tecnologias de comunicação.
O retrato atual das habilidades e comportamentos dos donos de pequenos negócios aponta para um grande desafio perante o perfil almejado nos próximos 10 anos. Levantamentos recentes feitos pelo Sebrae mostram que 19% dos empreendedores iniciais não chegaram a concluir o ensino fundamental e 22% não terminaram o ensino médio.
Quanto ao uso das novas tecnologias da informação, o Sebrae identificou que 18% dos donos de micro e pequenas empresas não acessam a internet e 26% deles não utilizam computador. Ainda de acordo com as pesquisas da instituição, 73% das micro e pequenas empresas não contam com página na internet e 60% delas não têm perfil no Facebook (60%).
Quanto à gestão financeira, os donos de pequenos negócios também apresentam uma grande defasagem de qualificação/formação. Cerca de 43% das micro e pequenas empresas ainda fazem a gestão em cadernos ou em folhas de papel e 53% dos empreendedores não fizeram nenhum curso para melhoria do conhecimento sobre como administrar um negócio.
Os especialistas ouvidos pelo Sebrae entendem que, a cada ano, a evolução tecnológica de equipamentos se mostra agressiva e progressiva. Com isso, é necessário acompanhar o processo evolutivo, fazendo com que os serviços ou produtos ofertados pela empresa não fiquem obsoletos ou tenham rápido desuso.
O ciclo de vida do produto, tão estudado nas últimas décadas, não segue mais as tradicionais regras do mercado. A maioria dos entrevistados acredita que o novo empreendedor tem que estar preparado para as mudanças tecnológicas que são impostas. Torna-se necessário, muitas vezes, o investimento em equipamentos e novas formas de produção, sendo que em determinados casos é preciso repensar todo o modelo de negócio.
Capacidade analítica do mercado
Nesse contexto, o empreendedor do amanhã deve ter a capacidade analítica do mercado, compreender de forma criativa as transformações sociais e, consequentemente, desvendar os desafios de marketing que surgem todos os dias. Assim como os respectivos gaps que podem ser atendidos, principalmente com novas soluções tecnológicas.
Conforme os especialistas, é necessária criatividade e iniciativa para isso. Porém, o empreendedor, além das boas ideias e das devidas competências técnicas e comportamentais necessárias, precisará desenvolver uma capacidade de relacionamento eficiente e um networking compatível com suas ambições.
Independentemente dos avanços tecnológicos e dos impactos causados nas relações de trabalho, segundo os especialistas, o relacionamento humano continuará sendo um dos aspectos mais relevantes na gestão dos negócios. A capacidade de gestão de pessoal se manterá importante.
Mesmo com a evolução nas relações entre máquina e homem e por mais que equipamentos substituam a mão de obra qualificada em diversos ramos de atuação; a capacidade de gestão de pessoal vai continuar interferindo diretamente na possibilidade de sucesso dos empreendimentos. Um ambiente de trabalho com sinergia entre profissionais de todos os níveis contribui para melhor produção em uma empresa.
A pesquisa mostra que, acima de tudo, será necessário equilíbrio e inteligência emocional por parte do empreendedor do amanhã. Os especialistas destacam também que o domínio de idiomas, embora não seja imprescindível, guarda papel estratégico quando se trata da expansão dos negócios, do acesso a novos conhecimentos e da ampliação do networking, sendo mais relevante nos negócios com alto potencial de expansão. Já o conhecimento básico de TI é indispensável para que os empreendedores possam estar sempre antenados com as tendências tecnológicas de seu setor.
As Hard Skills, habilidades técnicas adquiridas em cursos tradicionais e/ou com a experiência profissional, ainda guardam seu lugar de importância. Porém, muito mais para que o empreendedor possa saber de quem demandar e o que demandar, dentro de sua equipe, evitando desperdício de tempo e recursos. Os especialistas reforçam que, cada vez mais, as Hard Skills serão incorporadas nos equipamentos e nas tecnologias. Isto deverá reforçar o crescimento da importância das Soft Skills.
Em um contexto de intensa pressão econômica e até mesmo psicossocial pela obtenção do lucro de forma imediata, os especialistas entrevistados concordam que existe uma tendência da valorização da capacidade de resiliência dos empreendedores do futuro, ou seja, a capacidade de ouvir, ficar atento ao que acontece ao seu redor e esperar o momento certo para agir.
Nesse ponto, eles destacam o empreendedor mais novo, mais adaptado às tecnologias e inserido em ambientes de startups. Esse perfil tem maior chance de sucesso, melhor gestão de recursos humanos e maior oxigenação na capacidade de ampliação de negócios, estando mais preparado para enfrentar os desafios.
Perfil desejado do empreendedor do amanhã
- Possuir forte formação em Soft Skills (habilidades socioemocionais)
- Possuir, pelo menos, nível básico em Hard Skills (habilidades técnicas)
- Ter conhecimentos sólidos sobre técnicas de gestão
- Fluência no idioma inglês (opcional)
- Possuir conhecimentos em linguagem de programação
- Acompanhar a evolução das novas tecnologias/tendências
Especialistas ouvidos pelo Sebrae
- Bety Tichauer – Junior Achievement
- Bruna Tronchin Gallo – Já Brasil
- Carlos Pacheco – FAPESP
- Érik Capodeferro – CONAJE
- Heloísa Menezes – Empresa Tron
- Luciano Coutinho – UNICAMP
- Luis Cláudio Kubota – IPEA
- Sérgio Moreira – SENAI /CNI
- Thales Andreassi – FGV
- Victória Carramaschi – Falconi Consultores de resultados