Pandemia impacta o compliance que precisa se reinventar com a tecnologia

Yaniv Chor (*)

A digitalização, com plataformas de gestão de indicadores para as atividades rotineiras e para as comunicações corporativas, é uma das formas de suprir a demanda por agilidade e modernização das políticas de conformidade

Na trajetória das empresas, a pandemia do coronavírus será apenas uma das muitas crises que passarão. E, num cenário como esse, sem precedentes, a conformidade, ou como se diz no mercado, o compliance, não pode parar. Afinal, qual melhor resultado desta disciplina senão a prevenção da materialização de riscos e mitigação dos seus efeitos?

Uma pesquisa publicada em maio pela Society of Corporate Compliance and Ethics (SCCE) mostra dados bem interessantes no que diz respeito à atuação e ao comportamento da área durante o período crítico da pandemia no mundo.

No quesito do trabalho à distância – uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) como medida de prevenção do coronavírus, que foi adotada por 80% dos profissionais que responderam à pesquisa apesar das mudanças drásticas na rotina – 56% alegaram que essa transição, do escritório físico ao home office, foi melhor do que o esperado.

No entanto, esses profissionais também notaram um aumento de 36% nas demandas e questionamentos referentes às rotinas de compliance após as mudanças e 77% perceberam um crescimento no risco de falhas desta disciplina em suas organizações. Ou seja, as necessidades da área foram ampliadas, assim como seu potencial de erros nas organizações. Ademais, outra preocupação foi o orçamento, visto que 36% dos respondentes indicaram uma iminente redução nos investimentos relacionados às práticas.

O cenário é preocupante, pois o aumento de risco somado ao crescimento dos questionamentos e acionamentos à  área, tendo em vista uma diminuição no orçamento para monitoração e mitigação das consequências, pode acarretar problemas às organizações, seja pela falta de controle sobre os riscos mais críticos ou pelo aumento no tempo de resposta, resultando numa redução da credibilidade do programa de Compliance.

Ciente destes fatores, não há dúvidas, o compliance precisa se reinventar, buscando eficiência. Um destes caminhos é o aumento da interação com as outras áreas da organização gerando uma melhoria nas questões operacionais e no controle entre as interfaces internas. Esta é uma linha que parece já estar em andamento, pois 47% dos profissionais enxergam uma melhora na colaboração da disciplina com a liderança da empresa durante o período de trabalho a distância.

Se analisarmos pelas funções na organização, existe um incremento de 36% na interação com as áreas de negócio. As áreas de suporte também tiveram um aumento interessante de contato com a área, principalmente no jurídico e na gestão de pessoas, apontando um crescimento de 37% e 43%, respectivamente.

No entanto, há necessidade de garantir que as comunicações e as demandas que necessitem de interfaces sejam realizadas de forma estruturada e eficiente, para não se perderem no dia a dia dos profissionais. Portanto, é preciso que haja um controle das agendas das atividades, estejam elas sob a responsabilidade da área de compliance ou nas demais áreas da organização A busca de benchmarks e ferramentas que garantam mais agilidade à gestão da iniciativa torna-se fundamental para a eficiência da atividade.

A digitalização do compliance, por meio do uso de plataformas de gestão de indicadores para as atividades rotineiras e para as comunicações corporativas, é uma das formas de suprir essa demanda por agilidade e modernização da área. Portanto, o ensinamento da pandemia neste quesito é: o projeto  não pode parar, mas precisa inovar, principalmente sob o ponto de vista da tecnologia.

(*) diretor de Risco & Compliance na ICTS Protiviti

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