A tecnologia está remoldando o Direito e seus profissionais

Existem hoje duas frentes tecnológicas na área jurídica. A primeira envolve a automatização de processos manuais e a segunda volta-se para inteligência e auxílio na tomada de decisão.

Bruno Daleffi (*)

Desde a primeira etapa da revolução industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, a tecnologia vem, cada vez mais, expandindo seu território na sociedade, trazendo importantes mudanças para o mundo corporativo. Inicialmente atingindo indústrias têxteis e, gradativamente, migrando para outras áreas da atividade humana ou até mesmo originando novos horizontes a serem explorados.

Com a invenção dos computadores e avanços da comunidade científica impulsionados pela corrida tecnológica, tornou-se uma questão de tempo até o sistema judiciário abraçar a tecnologia, gerando especulações positivas e negativas sobre os impactos que tal avanço causaria no universo jurídico. Uma coisa temos que ter em mente: a tecnologia chegou para nos ajudar e não o contrário.

Ao contrário do que alguns pensam, não é papel da tecnologia substituir o profissional, mas sim auxiliá-lo a realizar um trabalho mais eficiente e com maior acurácia. A tecnologia age como um divisor de águas no desenvolvimento pessoal e profissional do ser humano, reestruturando-o, abrindo portas para novos aprendizados e uma nova linha de raciocínio, visando resultados mais assertivos e satisfatórios.

O profissional do Direito, como todo profissional que teve sua área de conhecimento afetada pela tecnologia, observa seu trabalho sendo gradativamente modificado com a implementação de novas ferramentas e novas metodologias, o que exige desde conhecimento técnico no assunto até o desenvolvimento de uma visão analítica e quantitativa. Essa reforma, além de adequar o judiciário aos métodos analíticos modernos, afeta diretamente os estudos, as ações e, eventualmente, as decisões judiciais. Dessa forma, podemos dizer que a tecnologia está remoldando o Direito e seus profissionais.

Duas frentes tecnológicas no Direito

Atualmente no Direito existem duas frentes tecnológicas. A primeira envolve a automatização de processos manuais, reorganizando e reestruturando o sistema judiciário, com a implementação dos processos eletrônicos e a plataformas cada vez mais eficientes de consulta processual.

Já a segunda é voltada para inteligência e auxílio na tomada de decisão, atingindo diretamente os escritórios de advocacia e departamentos jurídicos. Ela deve ser abordada em quatro fases de análise: i) a estruturação dos dados jurídicos internos; ii) o saneamento de eventuais informações inconsistentes; iii) a análise quantitativa, através de metodologias estatísticas e computacionais, hoje inseridas no judiciário através do termo “jurimetria”; e iv) a apresentação e interpretação dos resultados.

Automatizações em geral, seja para consultas de jurisprudências, elaboração de relatórios manuais onerosos ou até mesmo para verificar informações dos tribunais, otimizam o tempo do profissional do Direito, dando-lhe oportunidade de se concentrar em tarefas que necessitam de sua expertise no assunto envolvido. Análises quantitativas, provenientes da Jurimetria, consolidam um grande número de informações, gerando resultados que resumem fatos e evidenciam hipóteses do judiciário.

A Jurimetria está se tornando cada vez mais importante no mundo jurídico. A combinação entre o Direito, a Estatística e a Ciência da Computação amplia a visão do jurista e contribui com a tomada de decisão estratégica. Através da Jurimetria, métodos estatísticos e algoritmos de Inteligência Artificial calculam riscos, testam hipóteses e preveem possíveis cenários futuros com base nos padrões passados, podendo contribuir nos métodos de provisionamento, melhorias nas estratégias de acordo, estudos de perfil julgador, dentre outras análises que ampliam a visão do advogado. 

Requisitos para a Jurimetria

Para que a Jurimetria produza bons frutos, no entanto, é necessária uma boa estruturação de um conjunto de dados jurídicos e a correção de eventuais inconsistências que possam afetar as análises. Esses procedimentos intermediários, que estruturam os dados, envolvem, por sua vez, a construção de ferramentas que auxiliam o escritório ou departamento jurídico a ter um melhor controle sobre sua carteira, como por exemplo os softwares de gerenciamento de processos.

Considerando esse contexto, podemos afirmar que os principais impactos da tecnologia nos escritórios de advocacia e departamentos jurídicos são:

  • Reestruturação do sistema judiciário, como a digitalização e criação de plataformas online para estudos e consultas;
  • Chegada de novas ferramentas e metodologias;
  • Maior integração entre o profissional do Direito e a tecnologia;
  • Evolução do profissional do Direito para saber lidar com tal avanço.

Do mesmo modo, podemos resumir como principais benefícios:

  • Melhoria na organização da carteira jurídica, com softwares de gerenciamento de processos;
  • Melhor controle dos dados internos, com softwares de Business Intelligence;
  • Otimização do tempo do profissional do Direito, com robôs/ tarefas automatizadas;
  • Surgimento/aplicação de técnicas e análises jurimétricas que visam aprimorar a tomada de decisão.

O sucesso da aplicação das novas tecnologias no mercado depende de uma mudança cultural dos profissionais do Direito. Para isso, é essencial entrar em contato com especialistas com experiência e conhecimento em aplicação de automação de processos e Jurimetria em escritórios e departamentos jurídicos.

(*) Sócio da Terranova, empresa especializada em Jurimetria.

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