Startups atraem investimentos japoneses no Brasil

Atsushi Okubo, diretor-presidente da Jetro no Brasil.

Empresas do Japão que atuam no mercado brasileiro estão de olho nas boas oportunidades de negócios junto a empresas inovadoras

De acordo com o Banco Central (BC), o Japão ocupa a nona posição no ranking de principais países investidores no Brasil, principalmente nos segmentos de fabricação e montagem de veículos, reboques e carrocerias, artigos de borracha e plástico, além de produtos alimentícios e bebidas. Mas os investimentos podem sofrer um incremento em breve. As companhias daquele país, que já atuam por aqui, estão de olho nas boas oportunidades junto a empresas inovadoras, em especial startups. Chama a atenção deles, aquelas dos setores de agritech (22%), tecnologia da informação (13%), fintech e logística (ambas com 9% cada).

Os dados integram um relatório do Grupo de Estudos das Empresas Japonesas sobre Inovação no Brasil criado em maio último pela Japan External Trade Organization (Jetro), em parceria com as empresas que integram o Grupo de Trabalho de Inovação da Câmara de Comércio e Indústria Japonesa no Brasil, que reúne 35 empresas que atuam no país. Além das quatro áreas citadas, os nipônicos têm interesse nos setores de mobilidade, health tech e infraestrutura (todos com 6%). Outros, como biotecnologia, marketing, retailtech e security (com 3%) também são mencionados.

A boa notícia para os brasileiros é que 26% dos japoneses querem inovar a partir dos novos modelos de negócios das startups, e outros 17% objetivam investir e até adquirir companhias ou atuar no co-desenvolvimento de produtos e serviços com empresas recém-criadas e rentáveis.

“Há interesse das companhias do Japão em ampliar os negócios a partir das subsidiárias que conhecem bem o mercado local, mas outras nações têm recebido prioritariamente os investimentos, embora reconheçam a importância brasileira”, argumenta Atsushi Okubo, diretor-presidente da Jetro no Brasil.

De acordo com ele, outros mercados acabam por receber investimentos japoneses pelo desconhecimento, muitas vezes, do potencial brasileiro de inovação. “Para obter mais apoio, 40% das companhias que compõem o grupo de estudos afirmam que é preciso a matriz enviar seus principais executivos para desbravarem o Brasil”, afirma Okubo.

“Os dois países são grandes parceiros comerciais, mas as relações nessa área de inovação são tímidas. Nosso papel com a Jetro, como organização de fomento do comércio exterior e investimentos do governo japonês, é diminuir essa lacuna, pois sentimos que há um grande potencial para o incremento de novos negócios”, completa.

O SoftBank Group já descobriu isso e, por meio do seu fundo de investimento, já investiu por aqui em grandes startups como a fintech Creditas, a empresa de ginástica Gympass e as de logística Loggi e Rappi, com valores que chegam a US$ 1 bilhão por rodada de aporte.

Na pesquisa do Grupo de Inovação, a visita ao ecossistema brasileiro para a construção de um networking e a participação em programas de aceleradoras privadas e mesmo de inovação aberta por agências governamentais, respectivamente, foram citadas por 41% e 18% dos japoneses como fundamentais para avançar no Brasil.

“Hoje, temos casos em que as empresas buscam solucionar problemas resultantes dos ambientes de negócios no Brasil, como o Custo Brasil, através da inovação, porém 50% delas priorizam a busca de novos negócios a partir de suas operações locais”, diz Okubo.

Encontro para fomentar inovação 

Para diminuir essa lacuna no ambiente de inovação entre brasileiros e japoneses, a Jetro, em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Japonesa no Brasil, o Consulado Geral do Japão em São Paulo e a Japan House São Paulo, promoveram no dia 18 de novembro o Primeiro Grande Encontro de Inovação Aberta Brasil-Japão.

O evento reuniu grandes empresas japonesas atuantes na América Latina e teve o objetivo de aproximar e fomentar o diálogo e conhecimento sobre inovação com as corporações, startups brasileiras e seus ecossistemas.

Na programação, houve painéis de “Como e porque inovar no Brasil”, com apresentações de André Maciel (Softbank Latin America), Mitsuru Nakayama (CEO da Brazil Venture Capital) e Francisco Jardim (CEO da SP Ventures), e discussões com grupos de empresas japonesas (Sompo Seguros, Mitsui & Co. Brasil e Yamaha Motor do Brasil) e brasileiras, respectivamente, moderadas pela KPMG e Plug and Play Brazil.

Houve ainda o relato de cases da Ambev (Bruno Stefani), Truckpad (Carlos Mira), Checklist Fácil (Maurício Fragoso), Everis NTT Data (Roberto Celestino Pereira) e Caixa (Luis Felipe Bismarchi), além da participação da Associação Brasileira de Startups (Amure Pinho).

A Jetro, com a analista Tatiana Nagamine, aproveitou também o encontro para apresentar seus programas de fomento para levar empresas brasileiras ao Japão por meio do Invest Japan. Já o diretor Kenji Kainuma abordou aspectos de propriedade intelectual relacionadas às startups no Japão.

De acordo com o estudo Global R&D Funding Forecast, os gastos com P&D devem crescer 3,6% em todo o mundo em 2019, totalizando US$ 2,3 trilhões. E, segundo o Índice Global de Inovação (IGI), o Brasil ocupa a 66ª posição entre as nações mais inovadoras do planeta, em lista liderada pelo trio Suíça, Suécia e Estados Unidos. O Japão ficou em 15º lugar.

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