Soluções de gestão jurídica têm que focar as necessidades específicas dos usuários

Carlos José Pereira, diretor-presidente da Fácil

Deve-se entender que o Direito brasileiro é distinto do de outros países. E os projetos precisam considerar as peculiaridades organizacionais, culturais e de negócios dos clientes.

Uma solução de gestão e automação voltada para a área jurídica só poderá operar com eficiência, gerando valor para os usuários, se levar em conta as especificidades culturais e organizacionais de cada empresa, o que inclui sua área de atuação e seu modelo de negócios.

Para Carlos José Pereira, diretor-presidente da Fácil, este requisito básico é muitas vezes negligenciado no momento da aquisição e implantação de ferramentas de TI. Em entrevista a Law Innovation, o executivo fez uma série de ponderações a serem consideradas em projetos nesta área.

De imediato, ele frisa que, ao contrário do que comumente se propala, soluções importadas não são a melhor resposta para atender aos requisitos do mercado brasileiro: “As pessoas esquecem que cada país tem um Direito diferente. Tendem a trazer soluções dos EUA pensando que elas vão se encaixar no Brasil. Mas não é isso que ocorre”. É nesse sentido que o entrevistado garante: a tecnologia jurídica desenvolvida aqui nada fica a dever à que está disponível em outros países.

Foram exatamente as singularidades brasileiras que propiciaram os investimentos feitos no País, ensejando o surgimento de fornecedores locais com respostas adequadas às nossas condições. “Nossa área jurídica às vezes é mais complexa que a de outros países. Como nosso mercado é grande, sendo um dos que mais têm advogados, o nível de nossos provedores e das tecnologias disponíveis é muito bom”, nota Pereira.

Desafio para os provedores

Prosseguindo em sua argumentação, o especialista da Fácil salienta que o setor jurídico está longe de constituir uma massa única e uniforme de usuários. Muito pelo contrário. Reside aí, no seu entendimento, um desafio para atuação dos provedores de TI, que precisam então customizar suas ofertas.

Assim, por exemplo, há corporações multinacionais que carecem de controles jurídicos distintos dos das empresas nacionais. Temos companhias com filiais no Brasil inteiro e outras que mantêm somente uma unidade, o que faz com que os controles sejam um pouco diferentes.

Da mesma forma, devem ser levados em conta os múltiplos ramos em que atuam os escritórios de advocacia, havendo diferenças, do ponto de vista da operação da TI, entre áreas como a tributária, a cível ou a trabalhista.

Existem ainda as demandas específicas oriundas das administrações que coordenam os departamentos jurídicos e os escritórios. Há diretores e sócios com exigências as mais variadas.

“A solução, no fim das contas, tem que se adaptar às condições do negócio. Não basta dizer genericamente que um produto se adequa às melhores práticas do mercado. Ocorre que as melhores práticas são as do negócio, não são as genéricas”, sublinha Pereira.

Foi com base nesta concepção, assinala o diretor-presidente, que a Fácil criou a solução de automação Espaider mais como uma ferramenta flexível e adaptável do que como um produto acabado: “Quando vamos atender um cliente, analisamos primeiramente como ele trabalha. A ferramenta é quase como água num jarro, adequando-se ao jeito daquela empresa operar. Com o tempo, o Espaider adquire a cara da organização”.

Como exemplos desta abordagem, o entrevistado cita os projetos implementados em três empresas de cosméticos: Avon, Natura e Boticário. “Se você olhar, o Espaider é diferente em cada uma delas, embora as três sejam do mesmo ramo. Ele se amolda ao jeito de contingenciar, de produzir relatórios, etc, de cada cliente. Essa é a grande força do nosso produto”, assegura ele.

Compreensão correta da Inteligência Artificial

Outro aspecto crucial no êxito dos projetos é a correta compreensão de como funciona a Inteligência Artificial (IA). Conforme relata Carlos Pereira, por vezes as pessoas têm uma percepção muito errada do que é a IA, acreditando que se trata de uma tecnologia que sai aprendendo qualquer coisa, de qualquer jeito, como se fosse uma pessoa ou um estagiário.

“Isso não é verdade. A Inteligência Artificial tem que ser aplicada para determinadas tarefas. Para isso é imprescindível estudar estas tarefas e realizar a adequação dos algoritmos. O sistema que vai receber todos estes resultados e algoritmos tem que casar bem com essa rotina de IA”, preconiza ele.

Na Fácil, acrescenta o entrevistado, foi construído um laboratório onde os cientistas de dados checam se a solução de IA está realmente aprendendo, se é preciso melhorar o algoritmo ou adaptar a configuração. “Trata-se de um programa que necessita de supervisão constante”, resume.

Por fim, sob a óptica da governança de TI, o diretor-presidente avalia que este mercado amadureceu a ponto de demandar dos fornecedores elevados níveis de serviços e de profissionalização na operação de suas soluções.

“Clientes e usuários já têm um grau de exigência mais elevado por terem uma cultura tecnológica mais avançada. O cliente não quer colocar seus dados à disposição de qualquer empresa que não ofereça uma boa governança. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), por sinal, vai requerer dos prestadores de serviços uma evolução muito grande”, conclui o executivo.

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