Estudo da FGV: áreas jurídicas combinam gestão de negócios e tecnologia para melhorar resultados

Felipe Amarante Boaventura, diretor jurídico da Emccamp

Um case de sucesso neste sentido é o da Emccamp Residencial, que implantou o ciclo Plan, Do, Check e Act (PDCA) e a Gestão por Diretrizes (GPD) em seu departamento jurídico, alinhando seus indicadores e resultados às metas globais da companhia

Ter habilidades em gestão de negócios, competências socioemocionais e em tecnologia são recursos essenciais para modernizar e aprimorar a prática jurídica. Isso foi comprovado por um estudo realizado pelo Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (Cepi/FGV Direito SP).

O levantamento foi realizado com 400 bancas de advocacia de todos os portes atuantes em diferentes regiões do país. A pesquisa mostra que, entre as habilidades mais importantes para um advogado, por ordem de prioridade, 39% dos entrevistados responderam que a formação jurídica ainda fica em primeiro lugar. Um total de 26% escolheu competências em gestão como uma das mais importantes, 20% consideraram mais relevantes as habilidades socioemocionais e, por fim, 15% apontaram os “conhecimentos tecnológicos”.

Os dados foram coletados entre setembro e novembro de 2022. Segundo Marina Feferbaum, coordenadora do Cepi e da área de Metodologia de Ensino da Faculdade de Direito da FGV, é importante o advogado trabalhar de modo interdisciplinar. “A advocacia não é mais a mesma depois dos litígios de massa ou de áreas de atuação cada vez mais relacionadas com outras áreas do conhecimento”, assinala ela.

“Hoje, o que se destaca no mercado é um modelo de advogado delta. Ou seja, um profissional que conhece ferramentas para gerir o trabalho, entende de negócio, conhece o segmento de atuação e o business da empresa. Isso o torna muito mais preparado para entender os impactos que uma decisão jurídica pode ter e até para definir estratégias para evitar uma judicialização”, avalia a coordenadora.

A Emccamp Residencial, incorporadora com atuação em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, possui um case de sucesso que comprova que as habilidades de gestão e tecnologia podem auxiliar na prevenção de conflitos e riscos judiciais. O departamento jurídico da companhia introduziu metodologias do ciclo Plan, Do, Check e Act (PDCA) e de Gestão por Diretrizes (GPD), que trouxeram resultados expressivos para os negócios da empresa.

Alinhamento ao ciclo do negócio

“A aplicação de tais métodos no Departamento Jurídico da Emccamp Residencial permitiu que seu time de advogados, seus processos internos e sistemas de tecnologia jurídica fossem alinhados ao ciclo do negócio imobiliário, impactando positivamente na qualidade dos serviços prestados e nos resultados corporativos”, explica Felipe Amarante Boaventura, diretor jurídico da companhia.

Esta estratégia, ressalta o executivo, permitiu reduzir, substancialmente, o prazo de atendimento das demandas internas da organização, bem como as contingências e despesas judiciais. “Foram, aproximadamente, sete mil atendimentos jurídicos realizados pelo time de advogados da empresa, em 2022. Além disso, a adoção de processos internos sistematizados tem permitido maior racionalização na condução de casos judiciais da empresa, resultando em uma redução substancial no valor global das despesas judiciais e na adoção de métodos alternativos de solução de conflitos”, pontua.

Boaventura destaca que o Brasil é um dos países com a maior taxa de judicialização do mundo. “O custo com processos judiciais para o governo e para as empresas me parece insustentável. Acredito que a racionalização dos processos internos, mediante o uso de gestão e tecnologia, são alternativas necessárias para a prevenção de conflitos e riscos judiciais”, enfatiza.

Soluções extrajudiciais

“É importante que os advogados apoiem as atividades econômicas e tenham uma visão de negócios, prevenindo e solucionando extrajudicialmente eventuais conflitos. Essa visão tem sido enfatizada e trabalhada há muitos anos pela alta direção da companhia, especialmente pelo nosso vice-presidente administrativo, Eduardo Filho, que sempre direcionou as lideranças a aplicar métodos de gestão, mesmo em áreas que entregam serviços essencialmente intelectuais, como o Jurídico”, acrescenta.

O case da Emccamp foi destaque no 6º Congresso do Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário (Ibradim), realizado nos dias 24 e 25 de agosto, em São Paulo. O evento contou com a participação de quase dois mil profissionais do mercado imobiliário. Felipe Boaventura ressalta que “o evento reuniu as principais mentes do segmento, aqueles que pensam, aplicam e aprimoram o direito imobiliário no país”.

Segundo André Abelha, presidente do Ibradim, a visão de negócios é uma das competências essenciais do advogado imobiliário. “Por isso, o Instituto entendeu a importância de ter este debate no congresso deste ano, pois o profissional jurídico precisa compreender tanto sua função no tratamento e prevenção dos conflitos quanto na estruturação racional dos negócios imobiliários”, conclui.

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