O mundo do Direito vive o seu momento mais interdisciplinar até aqui, com uma mudança de mindset. Os escritórios e os departamentos jurídicos começaram a ter visibilidade como parceiros de negócios, ao lado de áreas como Comercial, Operações, Marketing e TI.
Gisele Karassawa (*)
Até há algum tempo, era comum o estigma que perseguia os advogados de maneira persistente: as demais áreas corporativas das empresas e o mercado como um todo enxergavam o operador do Direito como um obstáculo a ser transpassado para que os projetos acontecessem.
Mas esse cenário está ficando para trás. Atualmente, nota-se um movimento consistente na advocacia em que os advogados são incluídos como parte integrante dos squads de inovação.
E isso se deu, primeiramente, pela consciência da classe jurídica acerca da necessidade de repensar seu papel na sociedade. O tradicionalismo e o formalismo acentuados que historicamente fizeram parte da advocacia criaram um abismo relacional com os demais setores da economia, especialmente em nichos dinâmicos e arrojados como o da tecnologia e da inovação.
Nota-se como forte tendência a busca de formações multidisciplinares pelos advogados. Isso porque os escritórios de advocacia e os departamentos jurídicos das empresas têm valorizado o perfil de advogados que além de entenderem sobre leis, regulamentações e documentos jurídicos, tenham conhecimento em outras áreas como tecnologia, cyber segurança, dados, design, publicidade e economia.
A diversidade de repertório cognitivo trouxe novos olhares e abordagens para o mundo do Direito, que vive o seu momento mais interdisciplinar até aqui.
Nessa jornada, já é possível conferir efeitos práticos dessa mudança de mindset do mercado jurídico: os escritórios de advocacia e os departamentos jurídicos corporativos começaram a ter visibilidade como parceiros de negócios, ao lado do Comercial, Operações, Marketing e TI.
Os advogados têm sido reconhecidos como parte importante na construção da tomada de decisão nos projetos corporativos. O Direito assume um espaço de impulsionador de negócios, como uma ferramenta estratégica para viabilização de projetos com segurança jurídica e assunção de riscos de maneira informada e consciente, mediante um plano de medidas mitigatórias.
É importante destacar que a jornada de aproximação dos advogados às áreas de negócio passa também pela forma de comunicação, que está sendo totalmente repensada. Jargões jurídicos e expressões em latim que antes, equivocadamente, eram associados à consistência técnica de determinado profissional do Direito, hoje são no mínimo cafonas.
Linguagem simples e direta
Esse cenário deu lugar à aplicação de técnicas de Legal Design na construção de entregas que tenham o cliente/área demandante no centro de tudo. A regra, agora, é a utilização de linguagem simples e direta nos documentos, mantendo-se a consistência jurídica, mas sem a necessidade de se traduzir para as demais áreas de negócio.
Há, ainda, uma última camada de encantamento que vem sendo utilizada nesta virada de chave da área jurídica: o Visual Law. Trata-se de abordagem que utiliza recursos visuais para facilitar a compreensão de documentos jurídicos, tais como pareceres, contratos, termos de uso, avisos de privacidade por meio de imagens, ícones, vídeos, infográficos e linhas do tempo.
Neste sentido, nem mesmo o Poder Judiciário se afastou desta tendência. Em pesquisa realizada com juízes federais em 2020 pelo movimento Visual Law, identificou-se que 77,12% deles são receptivos à adoção de elementos visuais nas petições.
Nesta era em que vivemos, de dilúvio informacional, o tempo de retenção para o consumo de conteúdo nunca foi tão valioso e escasso.
Portanto, nos projetos de inovação, a participação do advogado que entenda do negócio, contribua assertivamente para a tomada de decisões com segurança jurídica e se comunique de maneira simples, pode se tornar um valioso ativo de diferencial competitivo para as empresas.
(*) Advogada e publicitária, Sócia-Fundadora e CEO do VLK Advogados