Área jurídica está mais aberta para as novas tecnologias, aponta estudo da AB2L

Daniel Marques, presidente da AB2L

Segundo o estudo inédito da entidade, 85,36% dos advogados acreditam que as ferramentas digitais ajudam o setor

Advogados e clientes enxergam com bons olhos o uso das novas tecnologias no setor jurídico. A conclusão é da pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), com dados coletados de agosto a setembro de 2021.

O estudo visa expor a relação entre advogados e clientes e o uso das novas tecnologias no direito, entrevistou 2019 pessoas, sendo 1500 cidadãos representantes da população brasileira e 510 advogados.

“O Brasil hoje é o Vale do Silício do direito com mais de 400 lawtechs. Vivemos na época de ouro da advocacia com oportunidades para todos os perfis. Fechar os olhos para a inovação é decretar a morte de uma advocacia que pode resgatar o ser humano como centro de todo processo jurídico”, conclui Daniel Marques, presidente da AB2L.

Sobre as ferramentas tecnológicas, 72% dos entrevistados responderam que os advogados deveriam usá-las para se relacionar com seus clientes e apenas 33,1% consideram que a advocacia está à frente de outros setores quando se fala de adoção tecnológica.

Já entre os advogados, 84,2% acreditam que deveriam usar estas ferramentas na relação com seus clientes, mas somente 62,8% responderam que a classe é atualizada em relação às novas tecnologias.

Lawtechs e Legaltechs

A pesquisa da AB2L também mostrou que apenas 42,4% dos advogados que participaram da pesquisa sabem o que são lawtechs e legaltechs e somente 28,1% disseram que fazem uso delas.

Apesar dos índices baixos, o estudo mostrou que os advogados estão abertos às novidades. Entre os entrevistados, 51,6% disseram que certamente usariam ferramentas para terem seus perfis publicados em sites de redes de advogados avaliados e recomendados e 44,3% responderam que talvez usariam.

Christian Nielsen, idealizador da plataforma Rightstars, plataforma que visa justamente conectar advogados e clientes de forma simples, acredita que a tecnologia é o caminho. “Na Rightstars, ajudamos advogados a se destacarem no mundo digital, mesmo sem ter conhecimentos específicos. Desenvolvemos uma solução acessível que ajuda os profissionais a serem encontrados mais facilmente por novos clientes, ao mesmo tempo, que facilita o acesso da sociedade aos serviços jurídicos, de uma forma confiável e simples.”

Uso das ferramentas tecnológicas 

Já sobre o uso de serviços jurídicos automatizados que usam inteligência artificial, 58,2% dos advogados disseram que certamente usariam e 34,9% responderam que talvez usariam. Para o uso de sites e aplicativos para se relacionarem com os clientes de forma totalmente online, 62,9% se mostraram dispostos a usar e 33,7% disseram que é possível que usem.

Os advogados demonstraram mais resistência, porém, ao uso de sites e aplicativos para a mediação de conflitos. Responderam que não usariam o recurso 14,3% dos entrevistados, enquanto 43,7% disseram que certamente usariam.

Percepção dos clientes sobre a tecnologia

Quando as mesmas perguntas foram feitas aos clientes, a pesquisa mostrou uma maior porcentagem de indefinição nas respostas, com 42,6% dos entrevistados afirmando que não fariam uso de sites e aplicativos para mediar conflitos e apenas 13,5% se mostrando favoráveis à ideia. Já sobre se relacionar com advogados totalmente através de ferramentas online, 48,9% disseram que talvez adotassem o método. Os que afirmaram que certamente fariam uso e os que não fariam uso se dividiram em 26,3% e 24,8%, respectivamente.

A pesquisa da AB2L também perguntou aos advogados sobre o impacto das novas tecnologias no direito e 85,36% disseram que elas ajudam. Em contraponto, em outra pergunta, 17,73% responderam que acreditam que as ferramentas substituem os profissionais.

Para a CEO da Lexly, empresa coorganizadora do estudo da AB2L, Juliana Barbeiro, a pesquisa traz para o mercado um ponto de vista pouco falado no meio do direito. ”Conseguimos trazer pontos importantes sobre o que advogados e escritórios podem fazer de diferente para obter uma maior satisfação do cliente e como nós, empresas de tecnologia jurídica, legaltechs e lawtechs, podemos desenvolver soluções para ir de encontro com essas necessidades, para gerar uma satisfação maior em todo o setor do direito”.

Custo ainda é empecilho

Sobre os motivos que levam os advogados a não utilizarem tecnologias jurídicas, 32,71% responsabilizaram o custo elevado, 19,84% disseram que desconhecem soluções e 18,50% alegaram ter pouco volume de trabalho. Já 12,87% dos entrevistados, responderam que não veem necessidade, 10,99% não confiam nas soluções apresentadas e 5,09% preferem fazer manualmente.

A pesquisa também perguntou quais segmentos tecnológicos são usados com mais frequência pelos advogados. As plataformas de conteúdo, educação e consultoria jurídica lideram a lista, com 70,33% afirmando que utilizam o recurso, sendo 26,78% com frequência e 43,55% de vez em quando. Outra utilidade com boa aceitação é a tecnologia que monitora e extrai dados públicos, com 64,55% de uso, sendo 21,39% com frequência e 43,16% de vez em quando.

Tayná Carneiro, CEO da FutureLaw, uma edtech focada em preparar os profissionais para as transformações tecnológicas do universo jurídico, acredita que é necessário “participar da construção de uma nova realidade, e não apenas permanecer em um papel reativo e impeditivo de grandes ideias e transformações”, disse. “Uma realidade em que as organizações jurídicas sejam cocriadoras da revolução 4.0, participando ativamente da construção e das transformações da sociedade”, completa.

O segmento tecnológico menos utilizado pelos advogados que participaram da pesquisa é o de resolução de conflitos online, com 53,95% respondendo que nunca usaram a ferramenta, 33,91% afirmando que usam de vez em quando e apenas 12,14% usando com frequência.

”A hora da tecnologia”

Segundo a conclusão da AB2L sobre os resultados do estudo, o momento atual é visto como um dos mais importantes da história dos últimos 100 anos e reflete mudanças significativas no comportamento e expectativas tanto de clientes quanto de advogados. “A tecnologia corrobora para essas mudanças e é urgente sua expansão e adoção nas mais diversas áreas do direito, iniciando pela educação, disponibilização e treinamento de todos os profissionais da área em como usar tais tecnologias em prol da sociedade e de seus clientes”, afirma Daniel Marques.

O estudo foi feito nas cinco regiões do Brasil, seguindo as mesmas proporções usadas pelo IBGE e com margem de erro estimada em 2% e um grau de confiança de 95%. “O futuro do direito começa agora. Esperamos que esse relatório possa trazer luzes ao mercado jurídico e melhorar a relação entre cliente e advogados. Sem lawtechs é impossível você inovar e atender às necessidades do cliente. Quem não inovar, morrerá”, declarou Marques.

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