Uso de tecnologias de ponta supera resistências culturais e cresce no meio jurídico

Guilherme Bordon, CEO da Elaw

CEO da Elaw avalia as transformações tecnológicas vividas pelo Direito, destacando os avanços alcançados e a importância das lawtechs na diversificação das soluções ofertadas ao mercado

Irineu Uehara

Em contraste com o que se verificava até o passado recente, a adoção de tecnologias de ponta vem se tornando um fato corriqueiro no mundo do Direito, transpondo as barreiras culturais e o conservadorismo característico do setor. Funções vitais ao exercício da advocacia têm sido apoiadas por soluções que automatizam processos, aprimoram a gestão e conferem inteligência às atividades do dia a dia de escritórios e departamentos jurídicos.

Em entrevista ao Law Innovation, Guilherme Bordon, CEO da Elaw, um dos principais desenvolvedores de TI para esta área, lembra que até há alguns anos as organizações usavam sistemas sobretudo como meros repositórios para armazenar documentos. “Hoje é diferente, os softwares de gestão jurídica tornaram-se obrigatórios. Sem eles, não se consegue mais competir no mercado”, ressalta.

É justamente em razão desta alta na demanda por tecnologia, prossegue ele, que houve, particularmente de dois anos para cá, uma célere multiplicação das lawtechs e legaltechs, que despontaram ofertando soluções especializadas, cada qual com foco em determinadas atividades.

Diante do cenário instalado pelo “boom” das startups, o entrevistado pondera que esta movimentação do mercado é muito positiva, na medida em que força as empresas a se tornarem mais pró-ativas, empregando a TI em maior escala.

Por sinal, os fornecedores já estabelecidos estão tirando proveito desta onda de inovação aberta ao celebrarem parcerias com as entrantes. É o caso da própria Elaw, que trabalha de forma colaborativa com cerca de 12 lawtechs, que projetaram soluções complementares e integráveis à sua plataforma.

Deste modo, a depender das necessidades dos clientes, o ERP jurídico da desenvolvedora pode ser conectado aos sistemas de legaltechs para aplicações de conciliação, de Big Data ou de Inteligência Artificial (IA), em meio a várias outras possibilidades.

Sob este modelo, a Elaw, quando é contratada e traz parceiros ao projeto (não só microempreendedores, mas também big players como IBM e Oracle), assume a tarefa de orquestrar e gerir o ambiente tecnológico, monitorando os SLAs (Acordos de Níveis de Serviços) de todos.

Ecossistemas multiplataforma

“Não pretendemos mais fazer tudo sozinhos, querendo ter todas as soluções dentro de casa. Cada vez mais, teremos ecossistemas mais amplos, de perfil multiplataforma”, explica Bordon. Para ele, este tipo de alianças deverá originar produtos mais robustos e integrados.

Dando outro passo nesta direção, no início do ano passado a Elaw inaugurou internamente uma área de parcerias estratégicas, que deverá, segundo o executivo, expandir-se significativamente em 2020. Startups já integram o time da empresa para lançar novos produtos.

Um outro fator que se vem mostrando decisivo para o incremento do uso da TI por parte do mundo jurídico, nota o CEO, é a flexibilidade na construção e na implantação das soluções, que têm de ser plenamente aderentes às demandas específicas e às particularidades dos clientes.

“O sistema precisa se adequar aos usuários e não o contrário. Desde o começo já desenvolvemos a plataforma para ser personalizável e parametrizável”, frisa o entrevistado. Existe uma versão única da solução que é configurada de acordo com as regras de negócios de cada cliente. Quando surgem versões mais novas, não se perde a customização, mas ganham-se outras funcionalidades.

A fim de apoiar este esforço de personalização, utiliza-se uma ferramenta de workflow, o BPM (Business Process Management). São abarcados, por exemplo, fluxos de pagamentos, de sentenças judiciais, de início e tramitação de processos até a fase de audiência e acordos. “Desenhamos os fluxos com os quais a empresa trabalha e o sistema vai controlar a execução correta das atividades, garantindo a eficiência da operação”, resume Bordon.

“Com esses cuidados, nossos projetos dependem menos do desenvolvimento e de times técnicos, e mais da consultoria, que cria as regras. Este é o modelo que implementamos nos últimos anos, o que nos ajudou muito a romper muitas barreiras nas vendas”, acrescenta o CEO.

De resto, o argumento esgrimido para os prospects é que o sistema possibilita aumentar os controles, suporta provisões mais assertivas com uma gestão mais detalhada, aprimora o trabalho da auditoria externa com melhora da rastreabilidade, facilitando com isso as tarefas de compliance.

Maior agregação de valor

Por esta soma de atributos, enfatiza o entrevistado, a tecnologia tem papel central na agregação de maior valor para as organizações. É, portanto, um ativo imprescindível para compor o perfil do chamado Advogado 4.0, que deve atuar em um mercado que se transforma digitalmente.

Cabe aos fornecedores municiar os operadores do Direito com o máximo de recursos que lhes permitam maximizar o desempenho nos escritórios e áreas jurídicas corporativas. E o arsenal já disponível pode ser empregado em um sem-número de aplicações.

Dentro deste escopo, a Elaw criou um departamento interno, o TIC (Technology Information Center), que lida sobretudo com dados e Big Data. Este setor está completando dois anos e mobiliza aproximadamente 20 colaboradores, que trabalham muito próximos da IBM na seara do Watson (plataforma de Inteligência Artificial da múlti), traçando projetos conjuntos.

A utilização intensiva da IA no desenho de várias soluções, aliás, tornou-se um dos apelos da Elaw em sua atuação no mercado. “O advogado que abraça esta tecnologia no dia a dia terá insights valiosos e verá agilizadas as suas rotinas. Conseguirá com isso trazer muito mais retorno para a companhia”, assegura o CEO.

Como não poderia deixar de ser, a concretização desta estratégia exigiu investimentos pesados. “Fomos uma das primeiras empresas de TI para o segmento a investir nisso. Mas isso é o futuro. Se não trabalharmos nesta direção, perderemos um grande diferencial”, conclui ele.

A Elaw contabiliza hoje numerosos cases de implementação. Atendendo principalmente departamentos jurídicos, ela mantém em carteira cerca de 200 empresas de porte, situadas entre as maiores do país.

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