Há uma grande variedade de produtos já disponíveis e amplamente utilizados nos EUA e Europa que proporcionariam grandes benefícios aos escritórios de advocacia brasileiros
Alexandre Dinamarco (*)
A discussão de para onde estamos avançando, no campo tecnológico, desenvolve-se em nível global, independentemente de mercado geográfico. Mesmo nos mercados jurídicos mais desenvolvidos, ainda há dúvidas de como os escritórios tradicionais serão afetados pelo uso de Inteligência Artificial e outras inovações ainda em curso. Neste aspecto, não se diferenciam dos profissionais de Direito no Brasil, que também vêm observando as diferentes iniciativas e tentando compreender como se aproveitar destas novas tecnologias em seus próprios nichos.
Em relação a produtos tecnológicos mais estabelecidos – como sistemas de gestão, gerenciamento de processos, arquivamento eletrônico, entre outros, a diferença se dá em volume e escalas de valores.
Há uma grande variedade de produtos já disponíveis e amplamente utilizados nos EUA e Europa que proporcionariam grandes benefícios aos escritórios brasileiros, com tecnologias quem nem podem mais ser consideradas de ponta, mas que acabam não tendo penetração no Brasil pelos seguintes motivos:
- Devido ao menor tamanho do mercado brasileiro (levando em consideração os escritórios com poder aquisitivo para investir em licenças, consultoria de implementação e suporte), os fabricantes e implementadores de centros maiores não estabelecem presença no país;
- Os grandes escritórios preferem não assumir o risco de importar tecnologias ou contratar serviços desta natureza no Exterior, portanto investem em produtos não específicos para o mercado jurídico (como SAP ou Microsoft) ou adquirem sistemas menos robustos, em ambos os casos investindo maciçamente em customizações;
- Entre as empresas brasileiras de software jurídico, há a necessidade de limitar a inovação tecnológica em nome da competitividade de preços – restringindo, portanto, o acesso a soluções mais sofisticadas (embora se deva reconhecer que nos últimos anos observam-se cada vez mais empresas e profissionais com muita criatividade e disposição para desenvolver soluções mais avançadas e especificas para o setor).
Funcionalidades disponíveis
De qualquer forma, o profissional de Direito brasileiro empreendedor, e de escritórios médios ou de fora dos grandes centros, pode se manter informado sobre tais tecnologias e ideias no Exterior, e ficar atento a maneiras de incorporá-las o quanto antes em suas práticas, através de sistemas locais ou até mesmo de aquisição de software lá fora que seja oferecido a valores competitivos. Há uma miríade de funcionalidades disponíveis, mas destacaria as abaixo em termos de relevância para a gestão de escritórios:
- Sistemas de gestão SaaS – oferecidos por modelo de assinatura (com baixo custo de implementação e customização) e baseados em nuvem (sem necessidade de investimento em estrutura local de TI). Há fornecedores no Brasil, mas ainda com pouca variedade para o mercado jurídico;
- Ferramentas de mobilidade – integração, sem necessidade de customização, de aplicativos instalados em smartphones de usuários com sistemas corporativos jurídicos, para atividades como lançamento de horas e despesas, revisão de faturas, acesso a informações gerenciais, etc;
- Aplicativos de Business Intelligence voltados especificamente para atividades financeiras do sócio de advocacia, como relatórios de performance e utilização, visualização de Work In Progress e de Contas a Receber;
- Sistemas de faturamento que tenham flexibilidade para registrar toda a gama de acordos de honorários e emitir faturas com base em tais acordos sem interação manual – incluindo revisão e aprovação de faturas online e e-billing;
- Sistemas de lançamento de horas que oferecem ao advogado todas as opções possíveis para registro de tempo com o mínimo de complexidade (por calendário, direto de planilhas e Outlook, por timers, identificado em função de e-mails enviados e documentos editados, lançados via smartphone etc);
- Portais de unificação de informações e workflows específicos para administração jurídica.
Na seleção destas, ou de quaisquer outras soluções tecnológicas, o profissional de Direito empreendedor deve enxergar o valor que elas podem trazer à gestão estratégica – por exemplo, reduzindo custos que permitam crescimento da margem em um mercado extremamente competitivo, ou na oferta de algum serviço a clientes que nenhum outro escritório possa oferecer com a mesma qualidade – e lançar-se ao projeto com a certeza de que ele é coerente com a estratégia do escritório, obter o alinhamento com a sociedade e implementá-lo com todos os cuidados necessários para a boa execução de um projeto.
(*) Gerente de Serviços Profissionais da Aderant para Europa, Oriente Médio e África