Mauricio Fiss, diretor executivo da Aliant
1ª Pesquisa Nacional sobre as Necessidades e Tendências do Compliance, conduzida pela Aliant e pela Protiviti, constata que empresas usam ferramentas automatizadas sobretudo para a área de controles, soluções digitais para canais de denúncias e para due diligence de terceiros
Nos últimos anos, as empresas têm sido cada vez mais pressionadas a adotarem práticas de conformidade, ética e transparência, tanto por iniciativas governamentais quanto por fatores internacionais, como a aplicação de leis anticorrupção em nível global. Nesse contexto de importantes mudanças no âmbito do compliance, foi elaborada a 1ª Pesquisa Nacional sobre as Necessidades e Tendências do Compliance, conduzida pelas empresas Aliant e Protiviti, que são especializadas neste universo e fazem parte da holding ICTS.
O objetivo do estudo foi identificar quais são os principais desafios, as características e os modos de organização existentes na área. Além disso, buscou-se descobrir as tendências e as intenções de investimentos em compliance para os próximos anos.
De acordo com a pesquisa, que envolveu 116 profissionais das áreas de compliance e executiva de 50 empresas de diferentes segmentos entre operações de médio a grande portes, constatou-se que 97% dos profissionais consideram que conscientizar e buscar apoio da alta liderança da empresa é considerada a atividade mais importante da área de compliance.
Dos desafios mais complexos, apontados por 77% dos respondentes, estão a realização do monitoramento de terceiros, a demonstração dos benefícios do compliance, a defesa do orçamento junto à alta administração, a inovação na forma de disseminar os conteúdos e os treinamentos.
Os riscos de fraude, combate à corrupção, lavagem de dinheiro e assédio, tanto moral como sexual, foram considerados por 74% dos profissionais como os principais a serem avaliados, monitorados e mitigados pela área de compliance.
Vale ressaltar que, no quesito de combate à corrupção, o Brasil tem melhorado seu índice, passando de 10° para 8° lugar no ranking do Índice de Capacidade de Combate à Corrupção (CCC) de 2023, que envolve os 15 países da América Latina.
No quesito uso da tecnologia, 71% dos participantes utilizam ferramentas automatizadas para implementar e gerenciar seu programa de compliance, sendo a automação dos controles o principal benefício observado. Vale ressaltar que 93% dos profissionais são adeptos à tecnologia em compliance e utilizam uma solução digital para Canal de Denúncia.
A pesquisa também constatou que outra ferramenta digital amplamente adotada é a de Due Diligence de terceiros. Também com 71% das respostas, é notável que as empresas estão dando uma grande importância à verificação e à avaliação dos terceiros com quem fazem negócios.
Tomada de decisões
Em se tratando do principal decisor na aquisição de uma nova ferramenta ou solução para a área de compliance no Brasil, o Compliance Officer é o responsável, representando 46% das respostas.
Outros dois apontamentos foram considerados relevantes na pesquisa. O primeiro revela que 87% dos respondentes manifestaram a perspectiva de integrar o compliance com a estratégia de negócios. O segundo é que 70% desejam inserir o compliance na transformação digital da empresa. Essas foram consideradas as tendências mais relevantes para os próximos dois anos na área.
Quando se abordou a incorporação da agenda Environmental, Social and Governance (ESG) ao compliance, constatou-se uma das posições mais baixas entre os temas abordados como tendências para os próximos dois anos, com apenas 53% das intenções.
De acordo com Mauricio Fiss, diretor executivo da Aliant, com o avanço tecnológico, é possível afirmar que há um crescente entendimento sobre a importância de inserir o compliance na era da transformação digital, levando as práticas até o dia a dia dos colaboradores, onde quer que estejam.
“Apesar disto, vimos que uma parcela significativa das organizações, 29%, não adota nenhuma solução digital na sua rotina, o que demonstra como as práticas do compliance nestas empresas ainda são realizadas de forma pouco eficiente e com pouco apoio da alta gestão. Nos dias de hoje, é imprescindível se adotar ferramentas para otimizar a rotina e sensibilizar o máximo possível de colaboradores e terceiros com este tema tão importante que é o compliance”, esclarece Fiss.
Perfil da amostra
Ao todo, a pesquisa contou com a participação de 116 respondentes, todos profissionais atuantes na área de compliance, exercendo tanto funções operacionais quanto executivas, incluindo cargos como analista, coordenador, especialista, gerente, diretor e presidente.
A pesquisa abrangeu predominantemente empresas de médio a grande portes, uma vez que as empresas com faturamento anual até R$ 4,8 milhões representaram apenas 17% dos participantes. Por outro lado, as empresas com faturamento anual acima de R$ 1 bilhão de reais representaram quase metade dos participantes.
O segmento das empresas participantes foi diversificado, com os segmentos a seguir representando juntos quase 50% dos respondentes: serviços financeiros (16%), saúde (11%), serviços em geral (9%) e tecnologia e telecomunicações (9%). Nota-se uma participação expressiva do segmento de serviços como um todo, inclusive os públicos.
Já sobre o perfil das empresas, foi observada a presença de organizações públicas, órgãos do governo e empresas nacionais e multinacionais, inclusive com capital aberto. Mais de 70% da amostra possui uma força de trabalho de até cinco mil trabalhadores diretos.
Estrutura da área de compliance
Mais da metade dos participantes informou que sua equipe de compliance é formada por duas a cinco pessoas. Nota-se que, mesmo para empresas de grande porte, a quantidade de pessoas na equipe de compliance ainda é, em sua maioria, formada por duas a cinco pessoas.
Ao considerarem o futuro de suas equipes de compliance, os participantes expressaram a expectativa de que as equipes se mantenham ou até mesmo aumentem, com apenas 2% dos participantes acreditando na possibilidade de uma redução no time.
Percebe-se uma constante intenção de investimento financeiro, visto que para 66% dos participantes o montante de 2023 está estável em comparação com o do exercício anterior. Apenas 10% dos participantes relataram que esse orçamento está menor do que 2022.
Para 48% dos participantes o orçamento é insuficiente para suprir as demandas da área. Esses resultados evidenciam a existência de uma parcela significativa de profissionais de compliance que enfrentam restrições orçamentárias, o que pode impactar suas capacidades de implementar efetivamente as iniciativas para enfrentar os desafios de manter a conformidade dos negócios.
A pesquisa completa está disponível neste site.