Bernardo de Azevedo, professor e pesquisador de novas tecnologias
Plataformas com tecnologias emergentes de mineração e crawling são cada vez mais usadas para aumentar a eficiência das estratégias jurídicas
A cena clássica dos filmes de julgamento na qual o advogado encaixa uma informação perfeita e ganha a causa sem contestação, garantindo a unanimidade dos votos dos jurados a favor da sua tese, está cada vez mais ao alcance dos profissionais de direito com o avanço das tecnologias emergentes. À medida que a advocacia caminha para um ambiente data-driven, os operadores do Direito já são capazes de coletar dados relevantes das testemunhas e das partes para se antecipar e diminuir o ambiente de incerteza próprio das audiências judiciais.
Desta forma, a prestação de serviços terceirizados de tecnologia para o ambiente jurídico tem crescido continuamente, devendo alcançar uma movimentação financeira de US$ 30 bilhões em todo o mundo até 2027, segundo um estudo divulgado pela empresa especializada em pesquisas Global Market Insights.
O advogado, professor e pesquisador de novas tecnologias, Bernardo de Azevedo, afirma que até há pouco tempo as pesquisas mais complexas para preparar uma defesa robusta em uma audiência duravam dias para serem concluídas, mas atualmente podem ser feitas em questão de minutos.
“Em uma audiência cível, por exemplo, se o profissional sabe que a parte autora litiga com outras pessoas de forma excessiva, poderá elaborar uma bateria de questionamentos para colocar em xeque a real motivação da demanda ajuizada contra seu cliente”, exemplifica.
Já em uma audiência criminal, Azevedo comenta que, se o advogado sabe que a vítima tem antecedentes por difamação e injúria, poderá utilizar tais dados para confrontá-la ou mesmo para sustentar a tese de culpa exclusiva da vítima. “Em suma, caberá ao profissional, com criatividade e técnica, saber manusear os dados e aplicá-los dentro de sua estratégia jurídica”, afirma.
O especialista afirma que, embora não exista ainda nenhuma pesquisa publicada até o momento sobre esse tema, o que se percebe, no contato com advogados atuantes em diversas áreas, é que está havendo uma adoção maior de tecnologia na área jurídica. “Os profissionais estão percebendo o potencial das ferramentas tecnológicas para otimizar suas atividades, aumentar a produtividade e obter mais resultados”, afirma.
A Kronoos, uma das principais plataformas fornecedoras deste tipo de pesquisa, afirma ter detectado um crescimento de 20% na carteira de clientes e 45% no faturamento somente durante o primeiro trimestre deste ano.
Pesquisas em numerosas fontes
A startup realiza pesquisas em mais de 2.500 fontes para conferir a idoneidade de pessoas e empresas. Baseada em tecnologias de ponta para mineração de dados e crawling, a solução, segundo a empresa, consegue pesquisar em minutos junto à Receita Federal, Tribunais de Justiça, Diários Oficiais, Listas Restritivas, Birôs de Crédito, Google, Dados Cadastrais, sites da ONU, OFAC, Interpol e outras, apontando com precisão o envolvimento de pessoas e empresas em casos de fraudes, corrupção, lavagem de dinheiro, terrorismo, crimes ambientais ou emprego de mão de obra escrava e infantil, entre outros problemas.
O CEO da Kronoos, Alexandre Pegoraro, comenta que, além de economizar tempo e reduzir custos dos advogados, a plataforma amplia significativamente a eficiência do desempenho na defesa das teses e isso fica evidenciado com o aumento do ganho de causas. “Encontramos rapidamente os dados que os profissionais de Direito escolhem ter em mãos no momento da audiência. Desta forma, com menos esforços e investindo uma quantidade menor de recursos, eles têm a oportunidade de obter maior quantidade de resultados positivos nos julgamentos”, salienta.
Para o professor Bernardo de Azevedo, o uso dessas plataformas tecnológicas se consolida a cada dia como a melhor maneira de evitar aquilo que Alexandre Morais da Rosa chama de “Espírito da Escada de Denis Diderot”.
De acordo com a teoria citada, se a resposta correta veio somente quando se estava descendo a escada do tribunal, e não no momento necessário, o profissional perdeu a oportunidade de produzir prova. “De nada adianta se lamentar, depois da audiência, por não ter feito uma pergunta importante. Por isso, se preparar com antecedência é fundamental”, conclui.