Setor jurídico tem carência de tecnologias de ponta, avalia a Semantix

Vitor Saldanha, head of legal da Semantix

Para a legaltech, Analytics e Inteligência Artificial garantem produtividade e maior segurança para os operadores do Direito

Rose Crespo

Com apenas dez anos de mercado, a empresa brasileira Semantix já possui um currículo respeitável e é apontada como referência em Big Data/Analytics e Inteligência Artificial na América Latina. Também ficou entre as 25 melhores provedoras de soluções de IA no mundo, segundo a revista CIO Applications. Seu modelo de negócios foi inspirado nas empresas de tecnologia do Vale do Silício e está à frente na oferta de soluções baseadas em open source software para grandes corporações.

Com escritórios em São Paulo, Cidade do México e Bogotá, a empresa aposta no segmento de soluções disruptivas para a área jurídica e não se considera uma legaltech tradicional. “Nossa expertise é focada em Big Data e IA. Ao contrário da maioria das empresas deste setor, não foram advogados que contrataram um time técnico; ocorreu exatamente o contrário”, diz Vitor Saldanha, head of legal da empresa e membro do conselho da Abria (Associação Brasileira de Inteligência Artificial).

A expertise da startup tem chamado a atenção de investidores. Ela já recebeu aporte do InovaBra Ventures – fundo de capital de risco do Bradesco – e também da Crescera, por meio do fundo Growth FIP. Em entrevista exclusiva ao site Law Innovation, Saldanha analisa a evolução tecnológica do ambiente jurídico que, a seu ver, ainda é muito carente de aplicações de tecnologia de ponta.

De um lado, ganhar eficiência para otimizar o contencioso jurídico – mais de 90 milhões de processos em tramitação no Judiciário brasileiro, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça – é o desafio do setor e a aposta da empresa. Na outra ponta, mais de 60% dos departamentos jurídicos buscam serviços otimizados de inovação, segundo a pesquisa da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L). Confira a seguir a entrevista:

Law Innovation – Como a Inteligência Artificial contribui para aumentar a produtividade no tratamento da carteira de processos judiciais e administrativos? Quais os benefícios da solução desenvolvida pela empresa?

Vitor Saldanha – A Inteligência Artificial, sendo conceituada como o desafio de criar máquinas inteligentes, aumenta não só a produtividade, como gera mais segurança jurídica. Isso porque a máquina, ao contrário dos seres humanos, é muito forte em encontrar padrões, o que representa uma análise mais precisa da carteira de processos.

Neste sentido, o AIJUS é uma solução de IA Law que emprega várias técnicas de aprendizado de máquina (supervisionada e não supervisionada, além de reinforcement learning) para promover melhorias na rotina do advogado.

Law Innovation – Que vantagens o modelo preditivo da Semantix oferece em relação à concorrência?

Vitor Saldanha – A Semantix não é uma legaltech tradicional, já que sua expertise é representada pelo Big Data e a Inteligência Artificial. Ao contrário da maioria das empresas deste setor, não foram advogados que contrataram um time técnico; ocorreu exatamente o contrário. Neste cenário, os modelos de aprendizado de máquina do AIJUS consideram uma etapa prévia de higienização e estruturação de dados, bem como uma fase de enriquecimento de dados. Com isso, há uma confiabilidade maior no output dos modelos.

Law Innovation – Quais são os tipos de empresas que já usam a solução, além da área jurídica? Quem são os principais usuários?

Vitor Saldanha – Empresas dos setores do varejo, automobilístico e de mineração utilizam a solução. Os principais cases estão relacionados com a temática da eficiência jurídico-financeira, considerando que há uma preocupação muito relevante com a questão da contingência e da ineficiência operacional.

Além disso, o produto utiliza como conceito a questão do data driven-law para conduzir os usuários a tomar decisões orientadas a dados e, por exemplo, a condução do passivo contencioso judicial/administrativo.

Law Innovation – Quais os desafios para as empresas que vão implementar o modelo preditivo? O mercado brasileiro está avançado em relação à adoção dessas tecnologias?

Vitor Saldanha – Os principais estão relacionados aos dados, volume e qualidade. Via de regra sempre há necessidade de higienização dos dados, além de enriquecimento. Quando pensamos em modelos preditivos, na maioria das vezes estamos imaginando técnicas de aprendizado de máquina. Nesse sentido, é necessário um volume grande de dados para que a máquina possa gerar modelos mais acurados.

Considerando o mercado da América Latina, o Brasil está avançado, sim. Pensando em outros mercados, como, por exemplo, os EUA, ainda temos um caminho para percorrer, mesmo considerando um cenário jurídico diferente, já que o procedimento americano se baseia na sistemática/tradição da Common Law.

Law Innovation – Qual o potencial que o senhor acredita que o segmento jurídico tem?

Vitor Saldanha – O segmento jurídico possui um potencial enorme. Os operadores do Direito precisam entender que a tecnologia é uma grande aliada. O que se percebe é que o ambiente jurídico ainda é muito carente da aplicação de tecnologia de ponta.

Law Innovation – A empresa planeja o lançamento de outras soluções para o segmento?

Vitor Saldanha – Sem dúvida. O roadmap atual do AIJUS projeta alguns lançamentos para o setor regulatório financeiro (CVM, Bacen e Coaf), Telecom (ANATEL) e Health (ANS e Anvisa).

Mais informações sobre a plataforma:

A plataforma AIJUS coleta dados de tribunais, integrando o histórico da base jurídica existente. Inclui buscas, cálculos financeiros, predições e recomendações, além de permitir a integração com softwares jurídicos do mercado.

Um dos módulos é o Contencioso, que oferece modelos de predição para ajudar na criação de planos de ações mais eficazes, com busca inteligente por todo o histórico jurídico oficial, apresentação antecipada de ações judiciais, identificação de anomalias com amplitude e Jurimetria avançada com modelos de Inteligência Artificial.

Outro módulo é o AIJUS Tax, baseado em Robotic Process Automation (RPA), para automatização do fluxo interno do Domícilio Tributário Eletrônico (DTE), bem como do e-CaC, que gera informações centralizadas e unificadas ao gestor e ao time jurídico/fiscal, mais os modelos preditivos.

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