Luiz Jeronymo, diretor de arquitetura da R3 para a América Latina
Com apenas sete anos de atuação, companhia acumula casos de uso bem-sucedidos da plataforma Corda, alguns deles no Brasil
As aplicações de blockchain corporativo – desenvolvidas há cerca de sete anos com o surgimento dos primeiros consórcios – estão hoje consolidadas no mercado. A própria R3, empresa de software corporativo, nasceu de um destes consórcios que, em 2016, reunia mais de 100 bancos, tornando-se empresa no ano seguinte.
Criadora da plataforma Corda, a companhia acumula experiências em diversos setores. O diretor de arquitetura da R3 para a América Latina, Luiz Jeronymo, cita referências como o projeto Spunta, da Itália, que criou uma solução de reconciliação bancária baseada em blockchain. Utilizando a plataforma Corda, a solução foi utilizada inicialmente por 18 bancos italianos. Hoje, ela interliga mais de 100 instituições financeiras e já processou mais de 300 milhões de transações.
“Outro exemplo é a Marco Polo, considerada hoje a rede de trade finance de maior crescimento no mundo”, lembra. Com o objetivo de reforçar o comércio internacional, a rede reúne mais de 40 bancos, como o BNP Paribas (França), ING (Holanda), MUFG (Japão) e o Bank of America (EUA). A iniciativa, resultado de uma colaboração entre a R3 e a irlandesa TradeIX, fornece uma plataforma de múltiplos ativos que oferece serviços de corretagem e transações em várias moedas.
Jeronymo cita ainda os exemplos da SIX, bolsa de valores da Suíça, que utilizou a tecnologia da R3 para a criação da SDX (SIX Digital Exchange), primeira bolsa de ativos digitais daquele país; e do banco Wells Fargo, que criou uma aplicação interna baseada me Corda para a transferência de dinheiro entre suas agências. “Eles enxergaram a possibilidade de utilizar o blockchain para fazer estas transferências com custos mais baixos e horário de operação mais amplo”, explica. Na prática, a instituição criou uma stablecoin lastreada em dólar que simplificou as transações realizadas internamente.
Mercado brasileiro
No Brasil, um dos primeiros casos de uso da plataforma Corda foi a Gavea Marketplace, primeiro ambiente digital de negociação de commodities agrícolas. “Eles utilizam o blockchain de forma inovadora, substituindo métodos bastante antigos, como a venda de commodities via telefone ou e-mail”, ressalta. A solução combina blockchain, Inteligência Artificial e Machine Learning para simplificar os processos de negociação, execução e liquidação de commodities como soja e milho.
Também no Brasil a Corda foi utilizada pela B3, CERC, CIP e CRDC, empresas autorizadas pelo Banco Central a operar sistemas de registro de ativos financeiros, na criação de uma plataforma comum para a troca de informações sobre o registro de ativos financeiros, tendo as duplicatas como o primeiro ativo a ser tratado.
Desenvolvida em parceria com a R3, a infraestrutura permite que as plataformas das diferentes registradoras conversem entre si. “Aqui se destaca a disponibilidade de empresas que são concorrentes entre si e se unem para colaborar na construção de uma rede que hoje tem um volume transacional bastante significativo”, ressalta.
Para Jeronymo, estes exemplos deixam claro que o blockchain corporativo tem trazido vantagens para estas empresas e permitido que elas trabalhem colaborativamente para atingir seus objetivos e de seus clientes. Além disso, a tecnologia segue evoluindo e já são visíveis soluções baseadas em tokenização de ativos ou mesmo criação de moedas digitais.
“Há também outra classe de problemas que não podem ser resolvidos com o blockchain, que é aquela em que tiramos inteligência de dados fornecidos por diferentes participantes de um ecossistema, mas mantendo sua privacidade. É a computação confidencial e é nisso que estamos trabalhando para o futuro”, conclui.