Plataforma de empréstimos usa Legal Design para facilitar entendimento de contratos

Erik Fontelene Nybo, CEO da Bits

Entre as vantagens já percebidas, o destaque foi a diminuição do retrabalho no departamento jurídico da Creditas e a melhora da jornada de experiência de quem requer crédito na plataforma

A Creditas, plataforma online de empréstimo com garantia, está testando com alguns de seus clientes um novo layout de contrato de crédito. Ao adotar o “Legal Design”, em parceria com a Bits (especialista em deixar qualquer documento claro para todos os públicos utilizando uma linguagem simplificada e elementos visuais), a empresa busca tornar as cláusulas e regras mais compreensíveis para seus clientes, promovendo assim a transparência e facilitando a interpretação das informações.

Sabendo que os produtos financeiros são complexos e de difícil compreensão, o propósito da Creditas ao estabelecer a parceria com a Bits foi proporcionar maior acessibilidade e transparência para os seus clientes, já que as pessoas, agora, têm condições de tomar suas decisões de forma mais informada, evitando o endividamento.

Recentemente, o Banco Central publicou uma pesquisa sobre o uso de cartão de crédito que reflete essa preocupação. Em 2021, aproximadamente 65 milhões de cidadãos (quase 40% da população adulta) realizaram mais de 200 milhões de operações mensalmente. Segundo o órgão, as famílias têm cerca de 30% de suas dívidas relacionadas a esse meio de pagamento. Conforme o Bacen, a desatenção das pessoas na hora de ler as regras, junto com a complexidade do produto, o baixo nível de letramento financeiro dos usuários e as faturas confusas, são fatores que podem resultar na utilização indesejada do crédito rotativo ou parcelamento. Neste sentido, a simplificação das faturas de cartão de crédito vem sendo vislumbrada como possível facilitador para melhorar o perfil de uso desse instrumento.

Essa abordagem pioneira reforça o compromisso da Creditas, diz a empresa, em melhorar a experiência do cliente e estabelecer relações mais claras e confiáveis. Bruna Araújo, gerente jurídica da empresa, explica que o Legal Design passou a ser utilizado nos contratos da plataforma este ano. Em pouco tempo, já se percebia, relata ela, a melhora da comunicação para quem busca acesso a crédito.

“Ao evitarmos o juridiquês e o uso excessivo de jargões técnicos, tornamos os documentos mais acessíveis. Isso evita que os clientes tenham dúvidas tornando o documento mais eficiente, o que resulta também em um aprimoramento das tarefas internas da empresa”, assinala. “Dessa forma, a compreensão das necessidades dos nossos clientes junto com a oportunidade de eliminar os ruídos de comunicação do dia a dia entre as partes foi percebida pelo jurídico. Notamos que a empresa disponibiliza contratos com textos que sejam claros e concisos”, completa.

Na visão do advogado Erik Fontelene Nybo, CEO da Bits, a maior vantagem para os clientes da Creditas é a capacidade de poderem ler e, principalmente, compreender o conteúdo do contrato, sem sentir que estão sendo enganados. “Eliminamos as letras miúdas e os termos técnicos quando fazemos esse tipo de trabalho. É uma inovação e alinhamento das empresas com o acesso à justiça”.

Documentos mais amigáveis

O conceito de Legal Design, como o próprio nome sugere, engloba práticas e processos que unem direito, tecnologia e design. A ideia é que o conteúdo jurídico seja verdadeiramente compreendido por todos. O objetivo, portanto, é que os documentos jurídicos se tornam mais amigáveis. “Ao eliminar o ‘juridiquês’ buscamos sermos mais assertivos e empáticos na relação com os usuários de um documento”, afirma Erik.

É importante destacar que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na pesquisa “Education at Glance”, aponta que, no Brasil, somente 21% dos jovens entre 25 e 34 anos conseguem concluir o ensino superior. No que diz respeito ao número de pessoas que conseguem chegar ao mestrado, a taxa cai para 0,84%, sendo que a média da OCDE é de 14,33%. E no caso do doutorado, somente 0,11% das pessoas conseguem cursá-lo, o que representa uma grande diferença da média da Organização, na faixa de 0,84%.

Por isso, adaptar a linguagem jurídica para um vocabulário acessível em contratos, decisões judiciais, políticas internas, certidões, editais e petições é tão importante, na opinião da Creditas. “Independentemente do grau de instrução das pessoas, sabemos que, dependendo do contrato, é necessário contar com a ajuda de uma pessoa especializada naquela área para conseguir entender o material. E mesmo assim sabemos que dúvidas e incertezas podem surgir. Não queremos que nossos clientes passem por isso”, pontua Bruna.

A profissional destaca ainda que a atualização das minutas da Creditas não passou apenas pela substituição das palavras pelas imagens ou pelos recursos visuais, mas uma mudança de pensamento, como forma de facilitar a compreensão humana, livre de exageros e rebuscamentos desnecessários.

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