O sucesso no uso de novas soluções passa pela transformação cultural. Ao fomentar e valorizar um ambiente de colaboração e capacitação, um escritório facilita a implementação de novos recursos e tecnologias, ao mesmo tempo em que fortalece o engajamento de seus colaboradores e a inovação.
Rafael Caillet (*)
Desde o início da década, um avanço intenso na transformação digital tem alcançado diversos setores da economia em uma escala global. Escritórios de advocacia, naturalmente, não são uma exceção a essa realidade, e as mudanças propiciadas pela tecnologia alteram profundamente o cotidiano do universo jurídico, trazendo novas dinâmicas, desafios e oportunidades para o exercício de uma profissão essencial para a sociedade.
Atualmente, ferramentas de tecnologia jurídica nos escritórios trazem benefícios para o desempenho das múltiplas funções dos advogados, proporcionando otimização no fluxo de trabalho e reduzindo o tempo gasto em tarefas repetitivas e manuais.
Dessa forma, os profissionais da área, além de mais eficientes e produtivos, podem investir seu tempo e atenção em atividades mais estratégicas para a organização, o que pode contribuir enorme e diretamente para o fortalecimento de escritórios que podem assumir a dianteira na corrida tecnológica do meio jurídico.
Mas, nesse contexto, é de extrema importância a capacitação digital dos advogados, de modo que seja possível extrair todos os benefícios do processo de robotização e aplicação de novas tecnologias em ambientes de trabalho em pleno movimento de disrupção.
Benefícios da digitalização
Um escritório de advocacia digitalizado é aquele que, a partir de recursos digitais e tecnológicos, otimiza os processos em seu cotidiano, de modo que as rotinas operacionais e os fluxos de trabalho possam ser automatizados, inclusive por meio de robótica e sistemas de Inteligência Artificial que auxiliam, dentre outros pontos, no enfrentamento do contencioso jurídico, na análise e no monitoramento mais ágil de processos.
Assim, profissionais da área, conforme apontado anteriormente, podem se concentrar em tarefas mais estratégicas e de maior valor para a organização, tendo ainda o suporte de dados precisos para a tomada de decisões.
E isso pode ser extremamente benéfico para o meio jurídico. Para se ter uma ideia, de acordo com uma pesquisa da Thomson Reuters, mais de 60% dos advogados ainda gastam mais de 40% de seu tempo com honorários ou atividades que não geram negócios. Trata-se de tarefas mais administrativas, como organização de documentos e acompanhamento de rotinas relacionadas à operação jurídica.
Hoje, ferramentas de Inteligência Artificial, por exemplo, já se apresentam ao mercado como uma solução para o desempenho dessas tarefas. Acerca disso, dados de uma pesquisa da Accenture mostram que, até 2035, essa tecnologia pode contribuir diretamente para a produtividade de profissionais em até 40%.
Com o ganho de importância dessas ferramentas (dos apps de processamento eletrônico às soluções avançadas de RPA), torna-se fundamental e necessário que os advogados desenvolvam, também, suas competências digitais. Assim, é possível utilizar-se da tecnologia como uma aliada para o crescimento.
A importância da cultura organizacional
A criação de processos digitalizados que sigam métodos adequados em sua concepção dialoga diretamente com a cultura organizacional de uma empresa — aspecto que também deve passar por adaptações para que essa adequação seja exitosa.
Em primeiro lugar, é indispensável o envolvimento de todos os colaboradores, de forma que estes entendam como podem ajudar a organização e quais são os benefícios proporcionados pela mudança.
E, para que possam efetivamente auxiliar nesse contexto, é essencial não só que sejam envolvidos no desenho de estratégias, mas também que sejam capacitados em novos métodos, ferramentas e tendências, a fim de que estejam preparados para se aproveitar das oportunidades que acompanham essa transformação.
Ao fomentar e valorizar um ambiente de colaboração e capacitação, um escritório facilita a implementação de novos recursos e tecnologias, ao mesmo tempo em que fortalece o engajamento de seus colaboradores e a inovação, garantindo um alinhamento entre as equipes e a motivação para lidar com os desafios dessa nova era digital no mundo do trabalho.
Em outras palavras: toda transformação digital depende também de uma transformação cultural.
Conclusão
Se antigamente a adoção de ferramentas tecnológicas e digitais era um privilégio das grandes empresas, hoje já se trata de um processo muito mais acessível, inclusive para escritórios de menor porte, com recursos menos robustos. É importante, claro, que estes se atentem também a questões de segurança da informação, sobretudo em um setor no qual muitos dados sigilosos são tratados.
A partir de investimentos em digitalização, os escritórios não só se preparam para enfrentar desafios e questões do presente, mas também se posicionam com olhar estratégico para o futuro — dentro de um cenário em constante mudança.
(*) CEO da Oystr