Cyril Garcia, Líder de Serviços Globais de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da Capgemini
Segundo pesquisa global da Capgemini, apenas 12% dos executivos que empregam a IA Generativa afirmam que a sua organização mede a pegada ambiental da sua utilização e, de fato, somente 38% afirmam estar conscientes desse impacto na sustentabilidade
O relatório do Instituto de Pesquisa da Capgemini (CRI) sobre a sustentabilidade da IA Generativa, “Developing Sustainable Gen AI”, mostra que a IA Generativa possui um impacto ambiental significativo e crescente. No entanto, muitas organizações estão falhando em acompanhar adequadamente esse crescimento, o que compromete seus objetivos na área de Ambiental, Social e Governança (ESG, na sigla em inglês).
À medida que as empresas avaliam a capacidade da IA Generativa de impulsionar o crescimento de negócios contra o custo ambiental da tecnologia, o relatório descreve medidas para projetar uma estratégia de IA Generativa responsável e sustentável.
O fato é que a adoção da IA Generativa se acelerou rapidamente. Pesquisas anteriores da Capgemini mostraram que no final de 2023 apenas 6% das organizações tinham integrado a IA Generativa em suas funções e espaços empresariais, ao passo que esse número saltou para 24% em outubro de 2024.
No geral, a IA não só impulsiona o crescimento dos negócios, mas também tem potencial para melhorar a eficiência energética e apoiar iniciativas de sustentabilidade. No entanto, a IA Generativa requer processamento de grandes volumes de dados e um poder computacional significativo, o que consome grandes quantidades de eletricidade, água e outros recursos.
Aumento das emissões
Como resultado, quase metade (48%) dos executivos acredita que a utilização de IA Generativa impulsionou um aumento nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). O esperado é que esse aumento na pegada de carbono continue a crescer.
As organizações que atualmente medem o impacto de IA Generativa esperam que a porcentagem de emissões impulsionadas pela IA como proporção do total de emissões de carbono organizacionais aumente, em média, de 2,6% para 4,8% nos próximos dois anos. Para mitigar essa situação, as organizações estão recorrendo cada vez mais a fontes de energia renováveis e otimizando a sua infraestrutura de IA.
Com as rápidas inovações em torno da IA Generativa, os registros de sustentabilidade das organizações não acompanharam o ritmo das mudanças. Apenas 12% dos executivos que empregam a IA Generativa afirmam que a sua organização mede a pegada ambiental da sua utilização e, de fato, apenas 38% afirmam estar conscientes desse impacto na sustentabilidade.
Da mesma forma, à medida que as empresas tentam acompanhar os concorrentes, o desempenho, a escalabilidade e o custo são fatores chave para a avaliação de modelos de IA Generativa, enquanto a sustentabilidade tem apenas uma pequena importância.
Apenas um quinto dos executivos classifica a pegada ambiental da IA Generativa como um dos cinco principais fatores ao selecionar ou construir modelos de IA Generativa, e mais da metade reconhece que incluir a sustentabilidade como um critério-chave na seleção de fornecedores para todos os requisitos relacionados à IA Generativa reduziria a pegada ambiental.
Medidas para o ciclo de vida
Seja como for, há uma crescente consciência da pegada ambiental da IA Generativa: quase um terço (31%) das organizações tomaram iniciativas para incorporar medidas de sustentabilidade no ciclo de vida da IA Generativa. Por exemplo, mais de metade já utiliza modelos menores e alimenta a infraestrutura de IA Generativa com fontes de energia renováveis, ou planeja fazê-lo nos próximos 12 meses.
No entanto, com mais de três quartos das organizações utilizando apenas modelos pré-treinados e somente 4% construindo os seus próprios modelos a partir do zero, os executivos dependem fortemente dos seus parceiros tecnológicos quando se trata de abordar a pegada ambiental da IA Generativa. De fato, aproximadamente três quartos consideram um desafio medir a pegada da tecnologia devido à transparência limitada dos fornecedores, e a indústria carece de uma metodologia sobre como contabilizar esse impacto.
“Se quisermos que a IA Generativa seja uma força para o valor sustentável de negócio, é necessário que haja uma discussão de mercado em torno da colaboração de dados, desenhando padrões para toda a indústria sobre como contabilizamos a pegada ambiental da IA, para que os líderes empresariais estejam preparados para tomar decisões de negócios mais bem informadas e responsáveis, e mitigar esses impactos”, disse Cyril Garcia, Líder de Serviços Globais de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da Capgemini e Membro do Conselho Executivo do Grupo.
“A IA tem potencial para acelerar objetivos de negócios e iniciativas de sustentabilidade. Propomos aqui passos práticos a seguir para que os líderes empresariais aproveitem plenamente tecnologias como a IA Generativa e proporcionem um impacto positivo para as organizações, a sociedade e o planeta. Esperamos que este tópico seja explorado com mais profundidade no AI Summit em fevereiro de 2025”, acrescenta ele.
Um roteiro para o uso sustentável
O relatório sugere que as empresas devam realizar uma avaliação minuciosa tanto do ROI financeiro como da pegada ambiental dos seus projetos de IA Generativa antes do lançamento. Elas devem considerar se necessitam de tecnologias de IA Generativa com utilização intensiva de energia nos casos em que possam utilizar outra tecnologia para obter um resultado semelhante.
O estudo também propõe que práticas sustentáveis sejam implementadas ao longo de todo o ciclo de vida da IA, incluindo hardware, arquitetura de modelo, fontes de energia para data centers e implementação de políticas de uso sustentável.
Em alguns casos, a IA Generativa pode realmente ser utilizada para acelerar as metas de sustentabilidade, apesar da sua pegada ambiental. O relatório destaca os principais casos de uso, incluindo relatórios ESG e planejamento de cenários, otimização de materiais para indústrias-chave ou design de produtos sustentáveis/circulares.
Um terço dos executivos já utiliza IA Generativa para iniciativas de sustentabilidade e dois terços afirmam esperar uma redução de mais de 10% nas emissões de GEE nos próximos 3 a 5 anos como resultado de políticas empresariais sustentáveis lideradas pela IA Generativa.
Contudo, essa suposição deve ser tomada com cautela, como cita o relatório, dado o número limitado de organizações que medem a pegada ambiental da sua utilização da IA Generativa. A investigação e a monitorização contínuas são cruciais para compreender e mitigar totalmente o impacto ambiental da IA.
Modelos de governança multidisciplinares, políticas eficazes e colaboração entre as partes interessadas em todo o ecossistema de IA Generativa também serão importantes para as organizações que desejam alcançar um uso seguro, transparente, sustentável e ético da IA Generativa. Quase dois terços (62%) dos executivos acreditam que barreiras de proteção e governança robustas podem efetivamente mitigar o impacto ambiental da IA generativa.
Para ler o relatório completo, acessar este Link
Metodologia da pesquisa
O relatório entrevistou 2.000 executivos de organizações com mais de US$ 1 bilhão em receitas anuais, em 15 países da América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico (Austrália, Brasil, Canadá, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Holanda, Noruega, Singapura, Espanha, Suécia, Reino Unido e EUA) e em 12 setores. Os entrevistados estavam razoavelmente/bem/altamente informados sobre as estratégias e iniciativas das suas organizações em torno da Gen AI, bem como sobre iniciativas de sustentabilidade ambiental e social.
Os entrevistados foram selecionados de organizações que já trabalham com Gen AI, seja na fase piloto ou em algumas/a maioria das funções/locais. Os executivos pesquisados estavam no nível de diretoria e acima, com um terço de funções de tecnologia, um terço de funções corporativas de inovação/estratégia e sustentabilidade, e o terço restante de funções de negócios, como finanças, jurídico, RH, marketing e comunicações, vendas, P&D, compras, fabricação, operações e logística.