Vanessa Louzada, CEO da Deep Legal
Ferramentas de análise monitoram movimentação em massa de ações contra uma mesma empresa no Judiciário, indicando casos de demandas repetitivas
A movimentação de ações em massa contra uma empresa, ajuizadas por um mesmo advogado que age supostamente de má-fé, não é algo raro na Justiça Brasileira e, muitas vezes, acaba virando caso de polícia. Para identificar com mais celeridade as demandas repetitivas e a advocacia predatória, o Centro de Inteligência do Poder Judiciário (CIPJ), vinculado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), vem articulando a criação de Centros de Inteligência locais nos Tribunais Federais, Estaduais e do Trabalho de todo o país. A ideia é que essas unidades monitorem o uso indevido do Judiciário e centralizem as informações sobre distribuição atípica de ações, demandas de massa, monitoramento de grandes litigantes e práticas fraudulentas.
“A advocacia predatória prejudica toda a sociedade, pois, além de aumentar o estoque de processos de uma empresa, obstrui o Judiciário, impactando diretamente no tempo de tramitação dos processos, fazendo com que as demandas reais levem mais tempo para serem julgadas”, explica Vanessa Louzada, CEO da Deep Legal, lawtech especializada em Inteligência Artificial e Gestão Preditiva.
As empresas que são alvo de condutas fraudulentas enfrentam uma série de prejuízos significativos. No entanto, o uso de ferramentas digitais pode ser um recurso eficaz para monitorar e identificar essas ações predatórias desde as fases iniciais, evitando assim que as fraudes ocorram. Vanessa Louzada ressalta que, devido ao grande volume de processos que muitas empresas precisam gerenciar, a identificação de ações predatórias se torna praticamente impossível sem o auxílio da tecnologia.
Nesse sentido, o uso de ferramentas como a Jurimetria e o Legal Analytics se mostra crucial, pois essas tecnologias realizam uma análise completa das demandas judiciais, possibilitando mapear os casos em que os advogados ofensores estão envolvidos. Com o auxílio de uma abordagem abrangente e o uso de recursos tecnológicos avançados, é possível trilhar diversas possibilidades, permitindo identificar essas demandas artificiais.
Cruzamento de informações
A localização dos processos da empresa é o primeiro passo, seguido pela identificação dos advogados responsáveis, análise das sentenças e avaliação do objeto do processo. “A partir daí, o cruzamento de informações se inicia, incluindo o confronto dos endereços dos advogados e a pesquisa por seus nomes em ações contra outras empresas do mesmo segmento. Essa análise minuciosa nos permite identificar ações fraudulentas e suas conexões, contribuindo para uma estratégia efetiva na prevenção dessas práticas prejudiciais”, destaca a CEO.
Ela explica que, com base nos dados obtidos, a equipe jurídica da empresa é capaz de ter uma compreensão mais precisa das ações em andamento, permitindo uma abordagem estratégica na avaliação e adoção de medidas para que os casos sejam denunciados.
“Através do uso de storytelling dos dados fornecidos pelo Legal Analytics, a empresa pode encaminhar o caso para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ministério Público ou Corregedorias Estaduais, por exemplo, dando continuidade à investigação. Em muitos casos, essas ações acabam sendo extintas devido à litigância de má-fé”, conclui a executiva.