Luís Navarro, sócio-diretor de Gestão de Riscos da KPMG
A maior barreira enfrentada pelas companhias é a ausência de cultura em gestão de riscos e crises e a falta de clareza em relação a potenciais benefícios destas práticas
Estudo realizado pela KPMG indica que 73% das empresas brasileiras pesquisadas não contam com um nível adequado de maturidade com relação aos planos de continuidade de negócios. Desse total, 40% das organizações encontram-se no Estágio 1, ou seja, não possuem sequer uma estratégia neste sentido. Outras 33% foram classificadas no Estágio 2, em que este mecanismo até existe, mas não identifica e contempla todos os eventos que possam afetar as operações adequadamente. Apenas 27% das companhias participantes da pesquisa situam-se no Estágio 3, apresentando, de fato, um plano de continuidade de negócios estruturado, completo e abrangente, similar ao modelo esperado pelas boas práticas de mercado.
Apesar dos números relacionados ao nível de maturidade, 57% dos respondentes da pesquisa afirmaram ter consciência da importância de se estabelecer um plano de continuidade de negócios. A pesquisa destacou ainda que a recuperação eficiente com o menor dano possível é o tema mais apontado pelos executivos entre os diversos benefícios trazidos pela implementação deste mecanismo.
Por outro lado, segundo os dados reunidos pela KPMG, a maior barreira enfrentada pelas empresas é a ausência de cultura em gestão de riscos e crises e a falta de clareza em relação a potenciais benefícios destas práticas.
“É imprescindível manter em mente que todas as corporações estão expostas a diversos riscos — e o que diferencia as bem-sucedidas das demais é a maneira como agem quando uma crise é instalada. Empresas que buscam a longevidade devem identificar e tratar os riscos por meio de um plano de continuidade de negócios eficiente. E, para isso, é importante entender o nível de maturidade da companhia, os protocolos de recuperação existentes e quais pontos devem ser tratados com prioridade”, pontua o sócio-diretor de Gestão de Riscos da KPMG, Luís Navarro.
Áreas de TI e financeira apresentam maior maturidade
O relatório da KPMG avaliou e classificou o nível de maturidade dos planos de continuidade de negócios de 17 setores. As indústrias que mais se destacaram foram tecnologia da informação e serviços financeiros, com 51% e 49% no Estágio 3, respectivamente. No Estágio dois, aparecem os segmentos de varejo (63%), energia, recursos naturais e saneamento (49%) e infraestrutura (44%).
Nas posições de Estágio 1 de maturidade estão companhias de logística e distribuição (88%), agronegócio (75%), biotecnologia (75%), educação (69%), bens de consumo (67%), construção/imobiliário (62%), farmacêutica (60%), entretenimento, mídia e editorial (60%), transporte, viagens, turismo (60%), manufatura (51%), saúde (48%) e de outros ramos de atividade (42%).
“Os resultados indicam que ainda há um longo caminho para que esta cultura seja implementada e naturalizada em todos os segmentos. Somente assim o patamar de maturidade desejado será atingido, alinhando a gestão de crises e de continuidade com a estratégia de negócios”, ressalta Navarro.
Sobre a pesquisa
A primeira edição da “Pesquisa de maturidade dos planos de continuidade de negócios no Brasil” foi realizada entre maio e junho do ano passado por meio de uma plataforma web e contemplou 28 perguntas. Os resultados foram classificados em uma escala com três níveis, detalhados a seguir:
o Estágio 1 – A empresa não possui uma política de continuidade de negócios e os pré-requisitos de governança para essa estrutura não estão implementados. Além disso, não existe avaliação do nível de preparação para responder a uma crise que interrompa a continuidade dos negócios e os colaboradores não são devidamente conscientizados sobre o assunto;
o Estágio 2 – O plano de continuidade de negócios existente não identifica nem contempla todos os eventos que possam afetar a continuidade das operações. A empresa dispõe de um processo de gerenciamento de crises, mas ele não é estruturado com todas as respostas, nem é atualizado de maneira regular, limitando as estratégias para a recuperação de eventos adversos;
o Estágio 3 – O plano de continuidade de negócios é completo e abrangente, revisado regularmente e sempre que há alguma mudança significativa nos negócios. A aderência à política, às normas e aos procedimentos é analisada de maneira independente e existe uma governança estruturada para o acionamento e execução da gestão de crises.