Lisa Worcman, sócia sponsor (à esquerda), e Mariane Cortez, consultora de Inovação do programa attix
Apesar de as legaltechs terem começado a evoluir antes da IA Generativa, sem dúvida alguma essa tecnologia tem se tornado um fator cada vez mais importante no crescimento e na transformação do mercado jurídico
Lisa Worcman e Mariane Cortez (*)
A adoção da Inteligência Artificial (IA), em especial a Inteligência Artificial Generativa, gera uma expectativa de significativa transformação no setor jurídico. Como mencionado no relatório The Future is Now: Artificial Intelligence and the Legal Profession, publicado pela International Bar Association and the Center for AI and Digital Policy: “O impacto transformador da IA não pode mais ser ignorado. Se a Internet mudou a maneira como vivemos e trabalhamos, a IA pode ter um impacto ainda maior em nossa profissão e em nossa sociedade. Nem todas as consequências da IA foram identificadas ainda, mas é claro que o futuro já chegou”.
Essa transformação digital do setor jurídico tem fomentado um segmento específico: as legaltechs. De acordo com o levantamento feito pelo Future Market Insights, a valorização desse mercado deve atingir US$ 29,60 bilhões em 2024, com previsão de alcançar o valor de US$ 68,04 bilhões até 2034. Somente no Brasil, desde a criação da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) em 2017, o número de legaltechs associadas aumentou mais de 300%.
As legaltechs são startups que têm como objetivo simplificar, otimizar ou melhorar a prática jurídica. A gama de soluções oferecidas é diversificada, como softwares de gestão de contratos e cadeia de fornecedores, plataformas de busca processual integrada a diversos tribunais com jurimetria e plataformas de e-discovery, todas com foco em otimizar atividades, melhorar a eficiência e a qualidade dos trabalhos entregues ao cliente final.
A partir de 2019, a evolução e popularização da IA Generativa, tecnologia capaz de criar novos conteúdos, como imagens e textos, contribuiu para a aceleração e desenvolvimento das legaltechs. Isso porque essa tecnologia é capaz de aumentar em até 10 vezes a eficiência operacional das atividades realizadas através dela, como criação automática de contratos e documentos diversos, respostas mais rápidas e personalizadas para perguntas abertas e a análise de grandes volumes de dados legais para encontrar padrões e insights.
A possibilidade de realizar melhores análises preditivas possibilita que os advogados façam previsões mais confiáveis sobre o desfecho de litígios, apoiando a elaboração de estratégias jurídicas mais eficazes.
Assim, apesar de o mercado de legaltechs ter começado a evoluir antes da IA Generativa, sem dúvida alguma essa tecnologia tem se tornado um fator cada vez mais importante no crescimento e na transformação do mercado jurídico.
Soluções cada vez mais sofisticadas
O potencial da IA no segmento é vasto, e as legaltechs continuarão a desenvolver soluções cada vez mais sofisticadas. A personalização de serviços também é apresentada como uma tendência no setor, com plataformas de IA capazes de adaptar recomendações legais às necessidades específicas de cada cliente, promovendo um atendimento mais personalizado.
Além disso, espera-se que haja uma evolução importante em segurança da informação, com o desenvolvimento de ferramentas que protejam ainda mais os dados sensíveis, especialmente em um contexto de maior integração tecnológica.
Outro avanço que podemos esperar é um maior uso de IA no suporte à resolução de disputas, com sistemas capazes de mediar e até resolver conflitos de forma mais ágil e precisa, desafogando o sistema judicial.
Adoção de tecnologia depende de capacitação
A Inteligência Artificial está redefinindo a atuação de escritórios e departamentos jurídicos que apostam na inovação tecnológica.
No entanto, para que os benefícios sejam significativos, além de avaliar em quais processos e atividades a IA será utilizada, é imprescindível que os times sejam capacitados antes da implementação das soluções e que haja programas de desenvolvimento contínuo a fim de garantir uma integração e utilização bem-sucedidas.
Para o sucesso no uso das tecnologias é fundamental que os times saibam extrair os melhores resultados das ferramentas utilizadas. Assim, aqueles que estiverem preparados para adotar essa inovação estarão em uma posição de destaque no mercado jurídico.
(*) Lisa Worcman é sócia sponsor e Mariane Cortez é consultora de Inovação do attix, programa de apoio a legaltechs fundado pelo escritório jurídico Mattos Filho.