A próxima onda de TI ligada à coleta, medição e análise de dados ESG capacitará empresas de todos os setores a atingirem metas de sustentabilidade ambiental, social e de governança, com avanços na transparência
Marcus Luz (*)
Termo queridinho do momento, o ESG avança rapidamente nas empresas e os benefícios da incorporação de metas ambientais, sociais e de governança já são amplamente percebidos tanto no aspecto reputacional como no financeiro. O papo sobre sustentabilidade corporativa não é novo, mas ganha outra roupagem com o interesse cada vez maior de consumidores e investidores por negócios realmente engajados com esses princípios. Os compromissos nestas áreas garantem não apenas lucros maiores, mas longevidade às corporações.
De acordo com o relatório da Distrito Inside ESG Tech, o ecossistema de startups tem alavancado o processo ESG das empresas brasileiras. Hoje já são 740 startups com soluções do tipo no Brasil. O setor que predomina em número de startups é o de água e energia, com 144 empresas (17,96%).
As soluções variam de gestão e otimização de energia ou água à geração de energia limpa, como a energia solar. Na sequência, destacam-se edtechs (10,22%), fintechs (8,73%), martechs (8,6%), hrtechs (7,73%), greentechs (5,61%), negócios sociais (4,24%), indústria 4.0 (3,39%), agtechs (3,12%) e biotechs (2,99%).
Se as razões para investir na estruturação de planos ESG nas empresas são um consenso, como coletar esses dados e reportá-los aos órgãos reguladores ainda não é. Sem a capacidade de avaliar e quantificar de forma correta os dados ESG, vemos iniciativas com pouca distinção entre metas claras e o efeito “greenwashing”, o que põe em risco o real significado e impacto do tripé ESG.
Ao contrário dos dados financeiros, a divulgação ESG muitas vezes não tem princípios claros e, frente à ausência de padrões para a correta coleta e análise de dados, empresas e investidores se deparam com um enorme volume de informações desestruturadas e subjetivas, e é neste ponto que a tecnologia pode prestar grandes contribuições, exercendo um papel central na coleta, verificação e análise do desempenho ESG.
Automatização de processos
Valer-se da automatização de processos baseada em um conjunto de tecnologias, como Inteligência Artificial, Ciência de Dados, IoT e Blockchain, pode resultar em uma maneira eficaz para assegurar a correta coleta e análise dos dados, a qualidade e precisão das informações, a conformidade e validação do que é reportado.
A IoT, que tem por objetivo conectar dispositivos à Internet, tem sido utilizada, entre as muitas aplicações, na busca pela eficiência energética. A tecnologia torna possível o monitoramento de diversos equipamentos em tempo real, possibilitando a tomada de decisões e ações fundamentadas em dados.
Ao capturar informações e centralizá-las em uma plataforma, é possível identificar todos os dispositivos que estão ou não estão em conformidade com a eficiência energética desejada. Alguns casos de uso apontam uma diminuição no consumo de energia de até 40% utilizando essas alternativas.
Em paralelo, a IoT também tem apoiado na coleta de dados relativos a iniciativas e programas que impactam a sociedade. Na saúde, por exemplo, a tecnologia pode auxiliar no monitoramento a partir do uso de wearables, promovendo a integração de todo o ecossistema para garantir a disponibilidade da informação em setores assistenciais e melhorando a acessibilidade, eficiência e qualidade dos serviços prestados.
Na área de transportes, a IoT tem se mostrado uma poderosa aliada. A conectividade das infraestruturas com veículos e condutores, somada ao uso de dados como gerador de valor no futuro da mobilidade, facilita a automatização do setor. Com isso, a tecnologia contribui para converter estradas convencionais em ecossistemas inteligentes que facilitem uma gestão automatizada em tempo real mais segura, eficiente e sustentável do tráfego.
Blockchain na área de consumo e logística
Já o Blockchain, por sua vez, é extremamente útil na área de consumo e logística. A solução tem apoiado, por exemplo, marcas de roupas para rastrear a cadeia de fornecedores para combater o trabalho análogo à escravidão. A tecnologia reúne os dados dos costureiros sobre quanto receberam e em que condições trabalharam. A marca, então, cria a peça e insere as informações sobre a cadeia de produção, incluindo qual oficina realizou o trabalho.
No fim, o histórico de cada peça é publicado em um site que o consumidor pode acessar com um código que vem na etiqueta. A ideia é permitir que os clientes tenham condições de rastrear pelo celular as roupas pelas quais se interessam, deixando de comprar das grifes que, por cumplicidade ou negligência, toleram este tipo de prática.
Além das tecnologias citadas, ferramentas como Inteligência Artificial, Data Analytics e Machine Learning compõem a cadeia, colaborando na criação de dashboards e alarmes que apoiam no monitoramento de indicadores ESG.
A próxima onda tecnológica para a coleta, medição e análise de dados ESG capacitará empresas de todos os setores a atingirem metas de sustentabilidade ambiental, social e de governança, e a serem mais transparentes. Ainda assim, é fundamental que o alto escalão das companhias lidere discussões em torno do tema ESG para que ações tangíveis sejam colocadas em prática e o mercado avance para um cenário mais verde, responsável e ético.
(*) Head de Tecnologias Avançadas da Minsait no Brasil