Empresas devem efetivar a gestão de riscos psicossociais a partir de maio

Natália Guazelli, advogada e sócia-proprietária do escritório Guazelli Advocacia

Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) exigirá que todas as organizações se adequem, devendo realizar uma avaliação minuciosa dos fatores que afetam o bem-estar psicológico de seus colaboradores, com o objetivo de identificar os riscos e implementar medidas preventivas

As empresas brasileiras estarão obrigadas a partir de maio a atender a uma nova exigência da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passará a incluir a identificação e o gerenciamento dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Esta mudança representa um marco na forma como as empresas lidam com a saúde mental de seus colaboradores e tem implicações diretas para a gestão do ambiente corporativo. O não cumprimento dessas normas pode resultar em penalidades e riscos para a reputação da empresa.

Riscos psicossociais no ambiente de trabalho são fatores relacionados à organização das atividades laborais e às interações sociais entre os trabalhadores, que podem impactar a saúde mental e física dos colaboradores. Entre os principais riscos psicossociais identificados, estão o assédio moral e sexual, sobrecarga de trabalho, falta de apoio social, insegurança no emprego, ambiguidade de funções, jornadas excessivas e metas impossíveis de serem alcançadas.

Esses fatores têm sido relacionados a sérios problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade, depressão e até o afastamento do trabalho, impactando diretamente a produtividade e o clima organizacional.

A inclusão dos riscos psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) é uma das principais mudanças trazidas pela atualização da NR-1. Com isso, as empresas devem realizar uma avaliação minuciosa dos fatores que afetam o bem-estar psicológico de seus colaboradores, com o objetivo de identificar os riscos e implementar medidas preventivas.

A Norma exige que as empresas monitorizem esses riscos de forma contínua, assegurando que as ações tomadas sejam eficazes na melhoria das condições de trabalho e na prevenção de doenças relacionadas à saúde mental.

De acordo com a Natália Guazelli, advogada corporativa e integrante da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR, é essencial que as empresas vejam a nova regulamentação além da obrigação legal, ou seja, como uma oportunidade de fortalecer a saúde organizacional e a produtividade de seus colaboradores.

Crescimento sustentável

“Investir na saúde mental dos colaboradores não é apenas uma obrigação, mas sim uma estratégia inteligente para o crescimento sustentável da empresa. Quando tratamos da saúde mental como qualquer outro risco ocupacional, garantimos um ambiente de trabalho mais seguro, produtivo e engajado”, afirma a especialista.

Além de evitar penalidades, as medidas preventivas ajudam a construir uma cultura organizacional mais saudável, o que se reflete diretamente no clima de trabalho, na motivação e no desempenho das equipes.

A primeira etapa para atender aos novos requisitos da NR-1 é realizar uma avaliação detalhada dos riscos psicossociais dentro da empresa. Esse diagnóstico deve ser feito com o auxílio de profissionais especializados, que identificarão os principais fatores que podem afetar a saúde mental dos trabalhadores. Isso pode incluir desde a análise de sobrecarga de trabalho e conflitos interpessoais até a avaliação de jornadas excessivas e a falta de apoio social no ambiente corporativo.

Em seguida, as empresas devem implementar medidas preventivas para minimizar esses riscos. Entre as ações recomendadas, estão a capacitação de líderes e gestores para que possam identificar sinais de estresse ou problemas emocionais em seus colaboradores, além da criação de programas de bem-estar e suporte psicológico, como a disponibilização de serviços de atendimento psicológico, e a promoção de um ambiente de trabalho mais inclusivo e colaborativo.

Para isso, é fundamental que a empresa revise seus processos e metas, garantindo que sejam realistas e alcançáveis, além de estabelecer políticas claras para combater qualquer forma de violência ou discriminação.

Estratégia inteligente

“Adotar uma postura proativa, com medidas de prevenção e apoio contínuo, é fundamental para garantir a saúde mental dos colaboradores, mas também é uma estratégia inteligente de gestão. As empresas que investem na saúde de seus funcionários têm resultados mais positivos no longo prazo, com aumento de produtividade e redução de afastamentos”, acrescenta Natália.

Outras medidas importantes incluem a criação de canais de comunicação eficazes e seguros, onde os colaboradores possam relatar anonimamente situações de assédio ou sobrecarga, sem temer represálias. A criação de um ambiente onde as pessoas se sintam ouvidas e apoiadas é essencial para a eficácia das ações de prevenção.

Além disso, é importante que as empresas revisem suas políticas de jornada de trabalho. A regulamentação da NR-1 sugere a necessidade de garantir que os colaboradores tenham descanso adequado e não sejam sobrecarregados com jornadas excessivas ou metas desproporcionais, que possam resultar em desgaste físico e emocional. O aumento da flexibilidade no trabalho, como a implementação de home office ou horários flexíveis, pode ser uma solução eficaz para reduzir os riscos psicossociais.

“É importante que as empresas não vejam isso apenas como uma obrigação legal: essa é uma grande oportunidade para melhorar o ambiente de trabalho, reduzir custos com afastamentos e aumentar a motivação e produtividade das equipes. A saúde mental é tão importante quanto qualquer outro risco no ambiente de trabalho”, finaliza Natália Guazelli.

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