Victor Rizzo, diretor de Inovação da e-Xyon Tecnologia
Robôs da lawtech coletaram dados em mais de sete mil varas no País, constatando a queda na distribuição dos processos judiciais no pós-Carnaval. O fenômeno atípico coincide com o forte aumento do número de mortes pela Covid-19.
A e-Xyon Tecnologia, especializada em soluções de Inteligência Artificial para o mercado jurídico do grupo e-Xyon Par, identificou uma redução considerável, de 23%, na distribuição dos processos judiciais a partir dos cinco dias úteis após o período do Carnaval. A análise, baseada em informações colhidas por robôs de análise de dados, também leva em consideração os cinco dias úteis anteriores ao período da data festiva, nas mais de sete mil varas de Justiça analisadas, diariamente, pela lawtech em todo o Brasil.
O fenômeno atípico coincide com o aumento espantoso do número de casos de mortes pela infecção do novo coronavírus justamente nessas datas. Segundo o painel do Governo Federal, a média diária de casos de contaminação ficou acima das 50 mil notificações, ou seja, voltou-se ao patamar de pico registrado no mês de julho de 2020.
“Chegamos à conclusão, com várias verificações cruzadas, indicadores e relatórios, de que o problema é uma queda de distribuição direta no Judiciário. Essa redução seria natural durante o período do Carnaval ou no recesso do Judiciário no início do ano, mas, deixando essas datas de fora, a preocupação é grande”, explica Victor Rizzo, diretor de Inovação da e-Xyon Tecnologia.
“Depois de todas as análises, concluímos que há uma conexão entre o aumento do número de casos de Covid-19 e essa redução, como aconteceu em abril e maio de 2020. Assim, acreditamos que a crise sanitária prolongada resulte em um problema de acesso das pessoas à Justiça, mesmo com um número sem precedentes de processos eletrônicos”, completa ele.
Queda na procura de serviços jurídicos
Para o especialista, apesar da promoção recente da digitalização do Judiciário, com a criação da “Justiça 4.0”, a atual realidade traduz o quanto os cidadãos estão receosos em sair de casa, deixando de buscar seus advogados e o consequente acesso aos serviços jurídicos.
“Esse panorama gera impactos em diversos níveis, em toda a cadeia. No primeiro nível existe o cidadão que está deixando de ter acesso aos seus direitos, na Justiça. No segundo nível, os escritórios de advocacia passam a ter menos demanda e, em um terceiro nível, os fornecedores de serviços e informações prestam menos serviços para os escritórios”, explica Victor Rizzo.
“O Judiciário realizou, ao longo do ano passado, um intenso trabalho para conseguir se tornar menos dependente dos meios físicos, seja evitando o deslocamento dos advogados ou oferecendo soluções práticas de digitalização. Ocorre que, atualmente, a sociedade como um todo não está fazendo a sua parte, desrespeitando o isolamento, o uso da máscara. Assim, é importante lembrar que as principais prejudicadas são as próprias pessoas”, conclui Victor Rizzo.