O conceito está associado à questão cultural na companhia e seu sucesso dependerá do quanto a organização busca se empenhar e investir em medidas que deverão garantir eficiência na monitoração dos processos. A tecnologia ajuda nessa jornada, porém jamais conseguirá estabelecer a máxima eficiência sem o apoio humano.
João Pires (*)
Sua empresa está atenta ao compliance? O termo em inglês, que se une a tantos outros no meio corporativo, faz menção ao ato de cumprir e obedecer a regulamentações que garantem que a organização esteja em conformidade com as leis do país. E, embora o conceito já não seja uma novidade, vem crescendo as discussões acerca do assunto, principalmente, com o atual cenário de instabilidade e mudanças no mercado.
De acordo com a pesquisa “Maturidade do Compliance no Brasil”, realizada pela KPMG, 64% das empresas no país realizam algum tipo de ação de compliance. Se analisarmos, esse número é relativamente baixo ao considerarmos que, dentre os entrevistados, 71% acreditam que as ações internas, mesmo sendo eficientes, podem melhorar.
Esse aspecto abre margem para buscarmos entender aquilo que, de fato, molda o compliance efetivamente nas organizações. Para isso, é importante chamarmos atenção para seus três pilares: prevenir, que visa eliminar riscos e averiguar se todos estão realizando um trabalho ético; detectar, o ato de analisar e olhar aquilo que está ou não em conformidade; e corrigir, uma vez que as condutas éticas já estejam pré-estabelecidas, é o momento de aplicar a famosa “tolerância zero” para erros e falhas.
Torna-se interessante analisar que o compliance visa, justamente, garantir que a empresa tenha total transparência nos processos a fim de evitar problemas futuros, como é o caso de diversas companhias que já entraram em recuperação judicial em decorrência de incompatibilidades e erros fiscais. Essa analogia ainda é um obstáculo a ser superado, considerando que, segundo dados do Sebrae, 71% dos negócios nacionais não sabem que não ter ações de compliance pode causar sérios problemas.
Além disso, a pesquisa ainda revelou que 15% das médias empresas possuem programas de compliance, sendo que 36% desse grupo comercializam com grandes corporações. Mas, 34% não tem conhecimento que a organização pode ser responsabilizada por atos ilegais praticados pelo colaborador.
Como uma medida preventiva, diversos países possuem leis e normas que visam assegurar a transparência nos processos. Nos Estados Unidos, como exemplo, foi criada, em 2002, a Lei Sarbanes-Oxley, que surgiu após escândalos fraudulentos nos relatórios financeiros de corporações americanas, visando garantir a transparência da gestão empresarial. Dentre os impactos dessa norma no Brasil, está a criação da Lei Anticorrupção, em 2013, com o mesmo propósito.
É interessante refletir que quando falamos sobre cumprimento de leis e normas, cria-se um certo receio acerca das burocracias existentes e, muitas das vezes, deixa-se de lado os benefícios que essa medida agrega. Neste aspecto, as organizações que possuem os processos de compliance bem alinhados e estruturados abrem margem para ganhos promissores, como redução e minimização de fraudes e corrupção, atratividade de potenciais clientes, além de posicionar uma imagem promissora e forte no mercado.
Certamente, toda organização almeja esses ganhos, mas para isso, é fundamental que líderes e gestores busquem implantar uma gestão assertiva que analise e cuide a fundo dos processos, bem como estabeleça medidas preventivas para possíveis falhas. Nesse cenário, contar com o apoio da tecnologia é a principal via para obter resultados efetivos.
Princípios GRC
Para garantir um compliance assertivo, é crucial que as empresas utilizem softwares de gestão embasados nos princípios GRC, sigla de governança, riscos e conformidade. Essas ferramentas, que possuem a técnica green light, permitem que seja realizada a gestão dos negócios partindo dos princípios de rastreabilidade e validação de acessos e cibersegurança, com o intuito de proteger os dados, garantir a privacidade e gerenciamento da interface do usuário.
Além disso, considerando o mundo globalizado em que vivemos, ter o compliance bem definido assegura que a organização opere em conformidade internacional, favorecendo sua expansão e desempenho. Entretanto, para que isso seja alcançado, é fundamental que, desde já, ela estabeleça a gestão top-down, a fim de provocar mudanças positivas na empresa.
Precisamos enfatizar que o compliance trata-se de uma questão cultural na companhia e, seu sucesso dependerá do quanto a organização busca se empenhar e investir em medidas que garantam uma melhor monitoração dos processos. E, embora a tecnologia seja uma excelente auxiliadora nessa jornada, sozinha ela jamais conseguirá estabelecer a máxima eficiência sem o apoio humano.
Deste modo, é fundamental que as organizações busquem se alinhar e agrupar suas ações em prol da maior transparência e gestão e, para isso, conciliar o compliance e tecnologia é a melhor alternativa. Afinal, para garantir uma gestão saudável, é preciso eliminar aquilo que é um problema.
(*) Executivo de Vendas da SPS Group