O principal benefício do Lean é melhorar a eficiência do jurídico, mas seu uso transforma profundamente o coletivo, requerendo habilidades analíticas e de resolução de problemas. Essa atividade coletiva, além de unir a equipe, também a valoriza, uma vez que é dela que as soluções surgem.
Yasmin de Lima Mohammad (*)
A discussão acerca da adoção de metodologias ágeis no âmbito jurídico vem, cada vez mais, ganhando força. O presente artigo busca demonstrar como o Lean Thinking (ou Pensamento Enxuto, na tradução ao português) se mostra efetivo na otimização de tempo e no aumento da produtividade.
Mas, afinal, o que é a metodologia Lean?
É uma filosofia de gestão empresarial que nasceu na década de 80 no Japão, criada por Taiichi Ohno, engenheiro da Toyota. Naquela época, o foco era tornar a fabricação de veículos da marca mais eficiente. A ideia foi um sucesso total, pois conseguiu melhorar a produtividade através de dois objetivos claros: eliminar tudo o que é considerado desperdício (seja de materiais ou de tempo) e identificar as sobrecargas que retardam o processo de produção.
Assim, o Lean Thinking se traduz em agregar o máximo valor para o cliente com o mínimo custo, o que é alcançado por meio da minimização de recursos, tempo, energia e esforços. Ademais, busca produzir projetos/produtos dentro do prazo e do orçamento, eliminar desperdícios, aumentar a produtividade e, por fim, criar um ambiente de trabalho mais seguro e colaborativo.
Ainda, é importante frisar que a metodologia Lean é regida por cinco princípios, que buscam orientar as empresas e organizações que buscam adotar tal pensamento, ordenando por etapas a prática para o seu desenvolvimento eficiente. Esses princípios consistem em:
1 – Definir valor, conforme percebido pelo cliente;
2 – Mapear todas as etapas do fluxo de valor;
3 – Criar um fluxo no sistema de produção, garantindo que seus produtos ou serviços fluam até o cliente de maneira tranquila, sem interrupções, eliminando atividades que não agreguem valor;
4 – Estabelecer sistemas pull (estratégia de manufatura enxuta usada para reduzir o desperdício no processo de produção) para criar apenas o que é necessário, quando necessário;
5 – Almejar a perfeição de forma contínua, tentando alcançar uma situação em que o valor seja criado sem desperdício.
Em resumo, o método Lean é perfeito para empreendedores que o desejam e não têm um plano de negócios elaborado. Graças a este método, a filosofia da empresa pode ser alterada para que se ajuste aos clientes de forma eficiente. Além disso, o pensamento em conjunto é uma forma de reduzir erros. Iniciar pela padronização dos processos é uma excelente forma de partida comum.
Como a metodologia Lean pode ser adotada em rotinas jurídicas?
A principal vantagem do Lean é melhorar a eficiência do departamento jurídico, mas seu uso transforma profundamente o coletivo. O uso do Lean requer habilidades analíticas e de resolução de problemas. Essa atividade coletiva, além de unir a equipe, também a valoriza, uma vez que é dela que as soluções surgem. Em nível individual, tal metodologia reavalia conhecimento, expertise e profissão: a solução passa de teoria para competência operacional. Lean é uma ferramenta e, como tal, produz resultados para a extensão da intenção para a qual é utilizada.
Ainda, a transformação digital pede, cada vez mais, que advogados e pessoas do ramo jurídico repensem suas formas de trabalho, inclusive no tocante do trabalho intelectual repetitivo. Nessa questão, vislumbra-se a possibilidade de automação de processos, mediante adoção de plataformas jurídicas que permitam cumprir formalidades administrativas em apenas alguns cliques. Essa fluidez e rapidez também podem ser implementadas em escritórios.
Aliás, a automatização, nesse contexto, representa não só um ganho considerável de produtividade, mas também uma melhoria nas condições de trabalho. É uma oportunidade para reconectar o valor do serviço às expectativas dos clientes. Não obstante, cada vez mais as habilidades interpessoais (do inglês soft skills) ganham espaço e relevância no mercado.
Portanto, é imprescindível encontrar o equilíbrio entre o que a empresa precisa, o que o sistema pode otimizar e o que os funcionários podem oferecer. Isso pode depender da sua especialidade, mas também da complexidade dos assuntos que são submetidos.
Por fim, vale salientar que o uso combinado de softwares modernos e do pensamento inteligente e criativo dos colaboradores caminha em conjunto para a inovação de produtos e serviços.
(*) Bacharela em Direito, especialista em Direito Digital e Compliance, pós-graduanda em Product Management e gerente no escritório Cristiano José Baratto Advogados