Os avanços e os pontos de melhoria no marco regulatório da IA aprovado no Senado

Rony Vainzof, sócio do VLK Advogados

No Brasil, segundo especialista, há desafios de investimentos, infraestrutura, desenvolvimento incipiente de pesquisa, patentes, aumento de desigualdades e fuga de talentos e de startups, o que indica um perigo de perda de competitividade

O Senado aprovou na terça-feira (dia 10) o projeto que regulamenta a Inteligência Artificial (IA) no Brasil. A matéria segue agora para a análise da Câmara dos Deputados. Rony Vainzof, sócio do VLK Advogados, contribuiu pela FecomercioSP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Fórum Empresarial da LGPD para o amadurecimento do texto, que, segundo ele, ainda precisa melhorar.

Em junho de 2024, Vainzof teve a oportunidade de defender muita cautela sobre o entendimento de como a IA é projetada, desenvolvida e implantada, com uma análise de impacto regulatório para ser encontrado o melhor modelo.

Afinal, no Brasil já há desafios de investimentos, infraestrutura, desenvolvimento incipiente de pesquisa, patentes, aumento de desigualdades e fuga de talentos e de startups, o que indica um perigo de perda de competitividade. 

O advogado indica pontos amadurecidos desde o início do PL 2.338/23:

  • Abordagem focada nas aplicações de IA de alto risco;
  • Divisão mais precisa dos agentes que compõem a cadeia de valor de IA e suas obrigações;
  • Mitigar o risco de judicialização em massa em razão da criação de novos direitos desproporcionais, inclusive para aplicações de IA de baixo risco;
  • Responsabilidade civil valorizando o ordenamento já existente, como o Código Civil e o CDC;
  • Carga de governança adequada e proporcional ao risco: avaliação preliminar, manutenção de registros e avaliação de impacto algorítmico, com inúmeras prescrições detalhadas na própria legislação, foram desidratados;
  • Retirada da necessidade de participação pública dos diferentes segmentos sociais na avaliação de impacto algorítmico;
  • Valorização e prevalência dos órgãos setoriais para regulamentar e fiscalizar os agentes regulados para evitar sobreposições;
  • Diminuição da carga trabalhista anteriormente prevista, como a coibição da demissão em massa ou substituição extensiva da força de trabalho pelo uso da IA, especialmente quando desprovida de negociação coletiva;
  • Excepcionar da aplicação da lei atividades de investigação, pesquisa, testagem e desenvolvimento de sistemas, aplicações ou modelos de IA antes de serem colocados em circulação no mercado ou colocados em serviço;
  • Tratamento diferenciado e simplificado para microempresas, empresas de pequeno porte e startups;
  • Estímulo à corregulação e certificações.

Contudo, apesar dos avanços, Vainzof acredita que é preciso introduzir melhorias na Câmara dos Deputados, nos seguintes temas:

  • Direitos autorais. Divulgação de resumos dos conteúdos protegidos usados no treinamento da IA. Assim, é possível que os detentores de direitos autorais avaliem eventuais violações. Previsão de futuros códigos de conduta, dentro do SIA e do CRIA, para preverem que modelos de IA remunerem titulares de forma razoável, considerando fatores como porte da empresa, complexidade do sistema, grau de utilização do conteúdo e impacto econômico da prática, além de estimular acordos entre titulares e desenvolvedores para criar um ambiente regulatório flexível. Permitir o treinamento para fins de pesquisa e desenvolvimento, desde que observados limites proporcionais e o respeito aos direitos dos titulares.
  • Relações trabalhistas. O texto atribui legitimidade para definição de políticas públicas aos órgãos administrativos, enquanto caberia aos poderes da República a criação de normas dirigidas ao setor privado.

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