Empreendedorismo digital poderá colocar o País nas primeiras posições nos rankings de inovação no mundo. Governo deve criar um ambiente que favoreça o nascimento e crescimento de mais empresas iniciantes.
Pedro Waengertner (*)
Não existe uma fórmula mágica para transformar o Brasil e colocá-lo nas primeiras posições mundiais dos rankings de inovação. Mas, se pudesse fazer uma aposta, seria através do empreendedorismo digital. Em um ambiente desafiador, a criatividade é o que prospera – e, se tem algo com que o brasileiro sabe contribuir no mundo dos negócios, é com soluções fora da caixa. Dobrar a taxa de criação de startups e incentivar ainda mais esse tipo de inovação pode ser a maneira ideal de gerar riqueza e tornar o país cada vez mais competitivo.
Ainda sem regras e regulamentações específicas, as startups se veem obrigadas a seguir as mesmas burocracias das empresas tradicionais. O que não condiz com o formato, ou mesmo agilidade, que elas necessitam para prosperar. O Marco Legal das Startups que tramita no Congresso irá melhorar o ambiente de negócios para as startups e, entre suas principais propostas, destacam-se a criação de uma conceituação unificada de startup e a simplificação de modelos societários, deixando mais fácil e barata a burocracia para se abrir e manter uma empresa.
A burocracia é um custo invisível que nem sempre colocamos na conta. Uma startup é uma organização enxuta por natureza e vejo o quanto a complexidade legal e tributária brasileira toma o tempo e energia dos empreendedores. A constituição das startups como Sociedades Anônimas (SA), embora seja mais recomendada pela característica do negócio, muitas vezes não é a primeira opção do empreendedor, que acaba optando por alternativas que limitam o seu crescimento.
Outro ganho importante para o cenário de investimentos no Brasil é a proteção ao investidor-anjo, o investidor pessoa física que aposta nas startups logo no início. Os riscos na pessoa física assustam e limitam o potencial de financiamento destes negócios. Com a redução das taxas de juros, o investimento de risco está mais atrativo do que nunca no Brasil, e poderá servir de combustível para o crescimento de que precisamos no setor. Basta deixarmos claras as regras e garantir minimamente a segurança dos investidores.
Existem, claro, pontos de extrema atenção no pacote regulatório, como, por exemplo, deixar bem claro o que, de fato, é uma startup. É importante ter suas características definidas para que outras empresas, que não se encaixam no modelo de startup, não tentem se enquadrar nessa categoria por falta de definições claras, beneficiando-se indevidamente.
Com mais de 12 mil startups de portas abertas no Brasil, e quase R$ 10 bi investidos neste tipo de negócio apenas no ano passado, estamos caminhando para um ecossistema de primeira linha. O governo brasileiro deve ficar atento para conseguir acompanhar o ritmo e criar um ambiente que favoreça o nascimento e crescimento de ainda mais startups. Vivemos uma era em que corremos o risco de ficarmos para trás na competitividade global se não desenvolvermos formas de andar muito mais rápido do que andamos, principalmente no quesito inovação e tecnologia.
Mesmo vivendo um momento de amadurecimento do ecossistema nacional das startups – atraindo, inclusive, muitos investimentos internacionais -, o país deve fazer um esforço para o fomento desse setor, ainda pouco explorado e que pode contribuir tanto para a geração de renda quanto para o aumento da oferta de empregos qualificados.
(*) Co-fundador da ACE, empresa de inovação e investimento em startups