Sistema de IA prevê o fim das funções repetitivas e baseadas em regras, como a pesquisa jurídica, a classificação de documentos e a geração de contratos, com os advogados devendo se concentrar em tarefas mais estratégicas e criativas. Porém, a interpretação e a aplicação do Direito, diz o ChatGPT, requerem uma compreensão profunda da lei, da jurisprudência e da ética, algo que somente os seres humanos podem fornecer.
Andrey Guimarães Duarte (*)
Nos últimos dias uma notícia tem dominado o debate público. O lançamento do ChatGPT, que é um chatbot, ou seja, um robô que usa Inteligência Artificial para a partir de perguntas do usuário dar respostas simulando um diálogo natural, possibilitando respostas desestruturadas e que ampliam os limites da pergunta feita. Assim, as respostas, em decorrência de serem baseadas em enorme banco de dados e na tecnologia de Machine Learning (máquinas que aprendem em razão das interações passadas) são naturais e com grau de inovação e criatividade que impressionam. Ele responde nossas questões e não apenas nos guia em alternativas predeterminadas como os chatbots padrão.
Exatamente essa característica que assombrou o mundo e acordou em nós a noção cinematográfica de Inteligência Artificial que foi esculpida em nosso subconsciente por filmes como “2001: Uma Odisseia no Espaço”, “O Exterminador do Futuro” e “Matrix”. Nestes filmes a Inteligência Artificial sempre se volta contra a humanidade.
Passado o susto, a realidade é menos dramática do que nos filmes, porém ainda assim merece preocupação, na medida em que chatbots como esses possuem o potencial de causarem impactos em diversas profissões, desestruturando cadeias laborativas, cadeias de negócios e – por que não? – a própria sociedade.
Diante desse quadro, temos os pessimistas que acham o copo meio vazio, os otimistas que veem o copo meio cheio. Já eu vejo o copo com água na metade e ele ficará mais cheio ou mais vazio a depender de como reagiremos a essa novidade. De como cada indivíduo vai se adaptar, de como as empresas vão reagir e de como o Estado vai regular essa inovação.
Contudo, por que não ouvir o que “pensa” esse “bicho-papão” sobre seu impacto no mercado de trabalho, em especial em profissões jurídicas como advogados, defensores, juízes e tabeliães? Vamos bater papo com o ChatGPT:
Eu – Comecemos falando de forma resumida: o que é você?
ChatGPT – Eu sou um modelo de linguagem treinado pela OpenAI. Minha função é responder perguntas e ajudar com informações, conversando de maneira natural como se fosse uma pessoa. Tenho conhecimento até 2021 e estou sempre pronto para ajudar com o que precisar.
Eu – Em termos técnicos?
ChatGPT – Tecnicamente, sou uma rede neural de linguagem baseada em transformers, treinada em grandes quantidades de texto da Internet para realizar tarefas como resposta a perguntas, geração de texto e tradução de idiomas. A tecnologia de transformers permite que eu compreenda o contexto e a semântica de uma frase, o que me permite responder de forma mais precisa e natural.
Eu – Qual o impacto que você gerará nos postos de trabalho?
ChatGPT – O impacto da tecnologia de modelos de linguagem como eu na força de trabalho ainda é objeto de debates e previsões. Por um lado, existe a preocupação de que algumas tarefas sejam automatizadas e substituam postos de trabalho. Por outro lado, também existe a expectativa de que a tecnologia possa criar novos postos de trabalho e otimizar processos, liberando os profissionais para se concentrarem em tarefas que requerem criatividade e pensamento humano.
A longo prazo, acredita-se que os modelos de linguagem como eu possam ajudar a aumentar a produtividade humana, permitindo que as pessoas completem tarefas mais rapidamente e eficientemente. No entanto, também é importante considerar a necessidade de se preparar para a transição e garantir que todos os profissionais possam se beneficiar e se capacitar para as novas demandas do mercado de trabalho.
Eu – Ok, mas, aumentando a produtividade de cada indivíduo, não haverá diminuição de postos de trabalho?
ChatGPT – A automatização de tarefas pode levar a uma diminuição temporária de alguns postos de trabalho, especialmente aqueles que são repetitivos ou baseados em regras. No entanto, a história mostra que, em geral, a automatização acaba criando mais postos de trabalho do que os que ela elimina, uma vez que aumenta a eficiência e permite que as empresas invistam em novos negócios e iniciativas.
Além disso, a tecnologia de modelos de linguagem como eu pode ser usada para ajudar a resolver problemas complexos e aumentar a eficiência de tarefas que exigem habilidades humanas, como a tomada de decisões, a solução de problemas e a criatividade. Desta forma, em vez de substituir postos de trabalho, a tecnologia pode ser usada para complementar e apoiar o trabalho humano.
Em resumo, o impacto da tecnologia de modelos de linguagem na força de trabalho é complexo e pode variar de acordo com a indústria e a tarefa em questão. No entanto, a tendência geral é de que a automatização crie mais oportunidades do que as que ela elimina a longo prazo.
Eu – A automação já empurrou a força de trabalho para tarefas mais intelectuais e agora você faz parte dessas tarefas. Quais sobrarão?
ChatGPT – A automação pode substituir trabalhos que envolvem tarefas repetitivas e previsíveis, mas ainda há muitas tarefas que exigem habilidades e capacidades que as máquinas não possuem. Algumas das tarefas que ainda não podem ser automatizadas incluem:
- Trabalhos criativos, como escrita, design e arte;
- Trabalhos que envolvem interação social, como cuidados de saúde e serviços ao cliente;
- Trabalhos que exigem julgamento e tomada de decisão complexa, como advogados e juízes;
- Trabalhos que exigem habilidades manuais e destreza, como construção e reparo de equipamentos.
Além disso, com o aumento da automação, espera-se que surjam novos empregos e oportunidades, especialmente em áreas relacionadas à tecnologia e à ciência da computação. À medida que a automação continua a evoluir, é importante que as pessoas se preparem para as mudanças e adquiram habilidades que sejam relevantes e valiosas para a economia em evolução.
Eu – Especificamente com relação as profissões jurídicas, qual o seu impacto?
ChatGPT – A tecnologia de modelos de linguagem como eu pode ter um impacto significativo nas profissões jurídicas, especialmente nas tarefas que são repetitivas ou baseadas em regras, como a pesquisa jurídica, a classificação de documentos e a geração de contratos.
Por exemplo, os modelos de linguagem podem ser usados para pesquisar rapidamente grandes quantidades de informações jurídicas, identificar padrões e ajudar a tomar decisões informadas. Isso pode permitir que os profissionais do Direito se concentrem em tarefas mais estratégicas e criativas, como a defesa dos direitos dos clientes e a resolução de conflitos complexos.
No entanto, é importante notar que a tecnologia de modelos de linguagem não pode substituir completamente o conhecimento e a habilidade humana dos profissionais do Direito. A interpretação e a aplicação do Direito requerem uma compreensão profunda da lei, da jurisprudência e da ética, o que é algo que somente os seres humanos podem fornecer.
Em resumo, a tecnologia de modelos de linguagem como eu pode ajudar a otimizar e aumentar a eficiência das profissões jurídicas, mas não pode substituir completamente o trabalho humano. É importante que os profissionais do Direito sejam capacitados para trabalhar em conjunto com a tecnologia e se adaptem às mudanças do mercado de trabalho.
Eu – Mas um menor número de pessoas pode fazer um maior número de tarefas?
ChatGPT – Sim, é possível que a tecnologia de modelos de linguagem como eu permita que um menor número de pessoas execute um maior número de tarefas de forma mais eficiente. Por exemplo, a automatização de tarefas repetitivas ou baseadas em regras pode liberar tempo para que os profissionais se concentrem em tarefas mais estratégicas e criativas.
No entanto, é importante notar que a tecnologia não pode substituir completamente o trabalho humano, especialmente em tarefas que exigem habilidades humanas, como a solução de problemas, a tomada de decisões e a criatividade. Além disso, a mudança para uma força de trabalho mais tecnológica pode afetar o mercado de trabalho e requerer treinamento para que os trabalhadores possam se adaptar a novas habilidades e oportunidades de carreira.
Em resumo, a tecnologia pode aumentar a eficiência e permitir que uma equipe menor execute um maior número de tarefas, mas não pode substituir completamente o trabalho humano. É importante considerar cuidadosamente como a tecnologia pode ser usada para complementar e apoiar o trabalho humano de forma ética e responsável.
Eu – Qual então sua opinião sobre o que um profissional do Direito deve ter para manter seu trabalho?
ChatGPT – Acredito que um profissional do Direito deve ter as seguintes habilidades e características para manter e aprimorar seu trabalho em um mercado cada vez mais tecnológico:
- Conhecimento jurídico profundo – Uma compreensão sólida da lei, da jurisprudência e da ética é fundamental para a profissão do Direito. A tecnologia pode ajudar a acessar e processar informações, mas a interpretação e aplicação da lei ainda dependem da habilidade humana;
- Habilidades técnicas – Conhecer e saber usar as tecnologias relevantes, como os sistemas de informação jurídica e de automação de processos, é importante para a eficiência e competitividade no mercado de trabalho;
- Habilidades de comunicação e resolução de conflitos – A capacidade de se comunicar de forma clara e persuasiva e de resolver conflitos de forma efetiva é fundamental para o sucesso como advogado;
- Adaptabilidade e resiliência – A tecnologia está mudando rapidamente e os profissionais do Direito precisam estar abertos a aprender e se adaptar às novas tecnologias e processos. Além disso, precisam ter resiliência para enfrentar desafios e mudanças no mercado de trabalho;
- Ética e integridade – O profissionalismo e a integridade são valores fundamentais na profissão do Direito e são importantes para garantir a confiança dos clientes e da sociedade.
Em resumo, para manter e aprimorar seu trabalho, acredito que um profissional do Direito deve ter conhecimento jurídico sólido, habilidades técnicas, habilidades de comunicação e resolução de conflitos, adaptabilidade e resiliência, além de ética e integridade.
Eu: Obrigado.
É isso, não sabemos se essas respostas estão pré-direcionadas em razão de serem questões que logicamente seriam levantadas ou se são respostas normais em decorrência de seu algoritmo.
E podemos extrair alguns ensinamentos de suas respostas. O operador do Direito terá que se preparar para essa transição, focar imediatamente em capacitação, resiliência diante das mudanças, adaptabilidade e constatar imediatamente que a tecnologia não é coisa de engenheiros, programadores e cientistas de dados. Hoje em dia ela está intimamente ligada ao exercício de praticamente todas as profissões. Imperioso entender seu funcionamento e como aplicá-la à sua profissão.
Não estamos falando do futuro. Estamos falando do presente e precisamos nos mexer imediatamente. É sempre importante lembrar que a humanidade nunca abandonou uma tecnologia nova e não será dessa vez. Resta trabalhar para que os otimistas tenham razão.
Por fim, pego-me diante de uma estranheza. Tratei o ChatGPT pelo pronome ELE, me senti compelido a debater com ele, talvez tentando convencê-lo, após algum tempo esqueci que era um sistema e agora me coloco como autor de um texto do qual boa parte não foi escrita por mim.
É o assustador e admirável mundo novo!
(*) Atual presidente da Associação dos Titulares de Cartório de São Paulo, vice-presidente do Colégio Notarial do Brasil – Seção São Paulo, 4º Tabelião de Notas da Comarca de São Bernardo do Campo e membro do Conselho Consultivo do Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário (Ibradim).