Migração para o digital trouxe inovações e facilidades e terão destaque aqueles que souberem conciliar tecnologia e relacionamento
Anelise Roberta Belo Bueno Valente e Thaynara Andretta (*)
Quarta Revolução Industrial, era da indústria 4.0, é a expressão criada para definir nosso momento, em que modelos de negócio e meios de produção unem as mais diversas formas de tecnologia, como inteligência artificial e robótica. Evidente que o mercado jurídico e atuação da advocacia não ficariam para trás no que diz respeito ao uso das tecnologias nos escritórios, o que se iniciou há um bom tempo com a digitalização dos processos judiciais.
O que de início enfrentou certa resistência, pelo receio da quebra de paradigma ou pelo desconhecimento, hoje torna a vida do advogado mais dinâmica, tanto em relação ao acompanhamento e à condução processual como em relação ao repasse de informações ao cliente, que pode, por si, consultar andamentos e fases do processo antes de entrar em contato para esclarecer eventuais dúvidas.
Aqueles profissionais que adotavam uma tecnologia rudimentar na gestão do escritório se viram compelidos a buscar novas ferramentas digitais para se manterem competitivos.
Com a pandemia, que reduziu eventos presenciais, a era digital na advocacia precisou avançar rápida e repentinamente, o que ocorreu com a criação dos balcões virtuais de atendimento e audiências por aplicativos de vídeo. Agora, inclusive, temos o juízo 100% digital, com intimações pessoais e outros atos, que seguiriam por meio físico, enviados por e-mail (claro, desde que com a concordância de ambas as partes).
Conforme as inovações avançam, aqueles que percebe a necessidade mais profunda de mudanças e deseja alcançar ou se manter como ponto de referência no mercado vê na tecnologia a forma de estar um passo à frente dos concorrentes. Hoje, é possível fazer uso de aplicações com inteligência artificial para ler dados, avaliar e separar jurisprudência, auxiliando o advogado a visualizar o cenário com uma gama de informações muito maior, além de tomar a decisão estratégica ainda mais assertiva e eficiente na busca de resultados para o cliente.
Claro que o trabalho intelectual, interpretativo e qualitativo em relação ao mérito e à aplicação da norma de cada caso concreto — seja mediação, composição, judicialização ou não — continua insubstituível. Mas, o ganho de tempo através da automação de atividades massificadas e repetitivas tem sido um diferencial para qualquer escritório de advocacia.
Isso porque, quanto menos tempo o profissional despende com tarefas simples, que podem ser automatizadas com segurança, mais tempo dedica à busca da melhor solução para o problema do cliente. Para além disso, e quiçá ainda mais importante nos dias de hoje, mais tempo poderá dedicar ao relacionamento com os clientes, internos e externos.
É fato que a democratização da informação deixou os clientes mais exigentes. Com uma rápida consulta em sites de busca na internet, é possível ter informações a respeito do tema para o qual precisa de serviços jurídicos, como também encontrar os profissionais que — já na apresentação digital — ofereçam mais segurança e especialidade.
Mudança da mentalidade e da cultura interna
Em razão do incessante avanço tecnológico, cada vez mais as formas de fazer as coisas tem se modificado. A busca por experiência pessoal e personalizada também tem se acentuado como ponto crucial para conquista e manutenção de clientes, de modo que a adoção de novas tecnologias precisa estar acompanhada de uma mudança de mentalidade e da cultura interna do escritório, como o desenvolvimento de pensamento estratégico, analítico, da comunicação interpessoal.
Se, de um lado, o escritório é ao máximo automatizado, tanto em relação às tarefas como em relação aos dados de sua carteira e resultados do trabalho intelectual de bancada de advogados, de outro, deve manter o relacionamento com o cliente o mais estreito possível. Isso proporciona experiência personalizada, colocando advogados estratégicos em contato direto e contínuo com os clientes.
Essa experiência é essencial para que a trocas sejam efetivas, com feedbacks e feedforwards, para que o entendimento entre prestador e tomador de serviço contribua de forma concreta para o desenvolvimento do negócio e entrega dos resultados. Ainda que a tecnologia seja extremamente útil e necessária, empresas são formadas por pessoas e a experiência do contato pessoal e direto é primordial para qualquer relacionamento progredir e ser mantido.
A transformação digital trouxe e traz diariamente incontáveis inovações e facilidades. Por isso, o profissional que almeja se manter em constante destaque no mercado deve estar atento a essas mudanças, sem deixar o relacionamento com clientes mecânico, priorizando a experiência. Ou seja, terão destaque aqueles que souberem conciliar tecnologia com relacionamento.
(*) Advogadas no Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica