Ministérios Públicos e corporações têm usado as redes sociais como importantes canais de vigilância. E o espectro dos crimes é imenso, passando por assédio moral e sexual, tráfico de influência, pirâmides financeiras e até violações de direitos humanos.
Cynthia Catlett (*)
TikTok, LinkedIn, Instagram, Twitter, Facebook e outras centenas de mídias sociais são agora mais do que formas de se comunicar com os públicos-alvo. Muitas empresas decidem suas estratégias de vendas e de comunicação com base nas redes sociais e no que é falado diariamente nelas. Memes e virais tornaram-se parte dos debates e dos compartilhamentos. Muitas vezes, essas redes são usadas para influenciar, principalmente, no Brasil, país que hoje tem mais de 500 mil influenciadores segundo a consultoria Nielsen.
E nesse mundo virtual agitado e que movimenta não só dinheiro, mas também é responsável por afetar reputações, de empresas e pessoas, como é possível fazer uma gestão de riscos eficaz? As due diligences hoje também são feitas neste ambiente virtual.
Para oferecer um pouco de contexto, é necessário sabermos que instituições financeiras já incluíram em suas pesquisas e triagens notícias e reportagens dentro de uma etapa do processo de due diligence. As Forças-Tarefas, inclusive, recomendam a pesquisa.
Muitas vezes, Facebook e Instagram podem trazer indícios da vida pessoal, com um histórico, com fotos da mesma e de seus familiares e amigos. Um dado importante divulgado recentemente pela Associação Internacional de Chefes de Polícia (IACP), nos Estados Unidos, mostra que 70% dos departamentos de polícia de vários países, com inclusão do Brasil, utilizam mídias sociais na investigação. E 80% dessas pesquisas eram fundamentais.
Para exemplificar, quando é necessário fazer investigação e due diligence para checar a renda da pessoa, pode ser determinante analisar seus perfis em redes sociais como Instagram e Facebook para observar se a pessoa investigada costuma publicar posts e fotos “esbanjado” e mostrando ter posses como carros de luxo, mansões, iates e outros bens, quando declara não possuir renda, para escapar de taxação de impostos. Neste caso específico, a exposição nas redes sociais pode ser um indício importante.
Outros dados importantes mostram como a análise e a investigação de posts, memes e “dancinhas” do TikTok têm sido fundamentais em diligências e outras incursões. Segundo a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, feita pela Safernet Brasil junto com o Ministério Público Federal no ano de 2022, houve um registro de 157 mil denúncias envolvendo apologia ao crime, pornografia infantil, LGBTfobia, manifestações de racismo e muitos outros exemplos.
O País ainda não tem um registro exato da dimensão da due diligence feita com dados colhidos nas mídias sociais para dimensionar o impacto. No entanto, Ministérios Públicos e corporações têm usado as redes sociais como importantes canais de vigilância. E o espectro dos crimes é imenso, passando por assédio moral e sexual, tráfico de influência, pirâmides financeiras e até violações de direitos humanos.
Um caso notório também no Brasil foi o de empresas que foram investigadas por formação de cartel, depois que o Ministério Público teve acesso a conversas de WhatsApp. As empresas contratadas, juntamente com investigadores da esfera pública, têm ampliado a cada ano o escopo e os meios para obter as informações necessárias.
(*) VP da Charles River Associates no Brasil