Diversas organizações possuem programas de integridade bem desenhados no papel, que no entanto acabam por se tornar ineficazes diante da falta de comprometimento da alta gestão ou da atuação contrária aos preceitos éticos
Gabriela Diehl (*)
O primeiro pilar de um Programa de Integridade é o engajamento da alta gestão – é o que diz a Controladoria Geral da União em seu Manual sobre Programas de Integridade. Afinal, o programa tem por objetivo mudar a cultura da empresa em direção à ética e tal propósito só pode ser alcançado com o patrocínio da alta gestão.
Alta gestão também é um pilar de suma importância para o FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), a legislação norte-americana sobre programas de integridade. O FCPA foi criado em 1977 para combater fraudes financeiras e desde então a legislação tornou-se um marco no compliance, inspirando diversas outras leis.
Nesse sentido, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América (DOJ) em parceria com a Securities and Exchange Commission (SEC) estabelecem que o compliance começa com um quadro de diretores e executivos sênior estabelecendo o tom de cultura adequado para o restante da empresa. A disposição de “tom de cultura” veio a ser conhecido com o chamado “tone at the top”, o que se traduz para “o tom do topo”, ou seja, o tom da cultura deve sempre vir do topo. O comprometimento da alta gestão é considerado parte da cultura de compliance.
Ademais, consta no manual do FCPA o expresso apontamento de que diversas empresas possuem programas de compliance bem desenhados no papel, no entanto tais programas acabam por se tornar ineficazes diante da falta de comprometimento da alta gestão ou da atuação contrária aos preceitos éticos.
É o que acontece quando a empresa tem um Programa de Integridade bem desenhado, mas possui uma alta gestão e líderes com perfil de vendas agressivo, numa busca de “lucro a qualquer custo”, o que acaba por impedir a atuação ética de colaboradores e favorece o aumento de fraudes e atitudes de não compliance.
Os colaboradores da empresa frequentemente olham para os chefes, principalmente para a alta gestão, como fonte de inspiração para as suas ações diárias. Sempre que nos encontramos em um grupo, seja social ou empresarial, os integrantes olham para os integrantes líderes daquele grupo e tendem então a imitar as suas ações. Este é um comportamento normal e inerente a todos.
Cultura ética corporativa
Por esse motivo, a alta gestão da empresa deve sempre manter as ações éticas, devendo agir sempre dentro do código de ética e conduta e dentro das demais políticas internas. A alta gestão é quem dita a cultura ética da empresa, sendo assim vital atuar com moral em seu dia a dia.
Além disso, deve também apoiar o Programa de Integridade alocando recursos para que o setor se desenvolva. É essencial determinar uma equipe responsável pelo programa, bem como é essencial determinar orçamentos e metas de crescimento para o setor. Assim como as demais áreas da empresa, a de compliance deve ser envolvida no planejamento estratégico.
Ainda, a alta gestão apoia o compliance ao conferir liberdade e autonomia para os seus integrantes no que se refere à investigação de denúncias e à promoção de treinamentos voltados a elevar a moral da empresa.
Dessa forma, com atitudes éticas diárias, com o fornecimento de recursos ao setor e o reconhecimento dos profissionais envolvidos com a promoção de autonomia, a alta gestão é capaz de apoiar o Programa de Compliance e, assim, cumprir com o primeiro pilar dos programas de integridade de sucesso.
(*) Advogada, pós-graduada em Direito Empresarial pela FGV-SP e co-fundadora da Be Compliance