A agenda ESG se impõe como tema com o qual devemos – e precisamos – nos familiarizar. É preciso que ela esteja no dia a dia das empresas, dos boards corporativos e de cada profissional
Dennis Herszkowicz (*)
A tecnologia sempre desempenhou papel muito relevante na geração de impacto positivo, não somente para as empresas, mas para a sociedade de maneira geral. Como indústria que deve movimentar globalmente US$ 4,2 trilhões em 2021 – crescimento de 8,6% em relação ao ano passado, segundo dados do Gartner – o setor tem uma responsabilidade também crescente em contribuir com o progresso e com o bem-estar da população. Por isso, acredito cada vez mais que a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) deve ser priorizada por todo o mercado, mas com especial atenção das empresas de tecnologia – uma demonstração de que reconhecemos e honramos nosso compromisso com a transformação social de forma ampla e sustentável.
As companhias do setor de Tecnologia da Informação têm, em seu DNA, um propósito voltado à promoção de mudanças. Este foco no desenvolvimento, ao mesmo tempo em que nos coloca em um caminho pioneiro, também nos propõe uma urgência em priorizar os avanços que nosso modelo de negócios ainda requer em várias frentes dentro no contexto de impacto ambiental e social. E o tema está no radar dos investidores. Um estudo da PwC publicado em 2020 apontou que 77% dos investidores institucionais planejam parar de comprar, ainda nos próximos dois anos, produtos que não respeitem os pilares ESG.
Neste contexto, a agenda ESG se impõe como tema com o qual devemos – e precisamos – nos familiarizar. É preciso que ela esteja no dia a dia das empresas, dos boards corporativos e de cada profissional, pois, quanto mais se discute, melhor para a sociedade.
É claro que não se trata de um tema absolutamente novo. Quem acompanhou o mercado nas últimas décadas viu cresceram as discussões sobre impacto das empresas no meio ambiente e desenvolvimento, emissões de carbono e outros temas mais específicos como reciclagem e reutilização de resíduos –este último especialmente relevante para o setor de tecnologia.
A década de 90 foi marcada por inúmeras e intensas discussões acerca da sustentabilidade, e foi no início dela que a conferência Eco 92, organizada pela ONU, colocou o tema sob holofotes em todo o mundo, e especialmente no Brasil, país que sediou o encontro. As conclusões do debate trouxeram à tona a urgência de que as empresas olhassem com mais atenção para os impactos ambientais e sociais.
Com a agenda ESG, temos a oportunidade – e o dever – de ampliar este debate, olhando não somente para as questões ligadas ao meio ambiente e à sustentabilidade, mas adicionando a elas um forte olhar para a governança. Isso significa reforçar nosso compromisso com a integridade e com a ética, formalizado em códigos e documentos que adicionem cada vez mais transparência aos processos corporativos e às relações de negócios.
Benchmarks e melhores práticas
Outro ponto fundamental é ter em mente a necessidade de aprender com quem faz, buscando benchmarks e melhores práticas dentro e fora do Brasil para garantir que os erros e acertos sirvam para criarmos um caminho cada vez mais efetivo e bem estruturado. Também é importante garantir mecanismos de escuta e percepção dos públicos sobre o tema.
Fica claro que esta é uma agenda fortemente atrelada ao papel que as empresas de tecnologia prestam à sociedade. Porque não basta inovar e promover ferramentas que beneficiem seus clientes, é necessário olhar para a cadeia como um todo e para os impactos que se dão, muitas vezes, como consequência do que nossos clientes fazem e de como utilizam as tecnologias que disponibilizamos.
Aqui, a palavra é engajamento. É preciso engajar os clientes, mas ir além. Colaboradores, fornecedores, consumidores e, cada vez mais, investidores precisam entrar junto neste jogo para que todos saiam ganhando. Um modelo em que acredito, e que tenho colocado em prática, são os grupos de trabalho multidisciplinares e que realmente garantam uma visão ampla da companhia e do mercado. Mas este engajamento só se dará se garantirmos que o C-level e os níveis de gestão realmente priorizem a agenda.
O olhar para a estratégia ESG se consolida como um gesto de responsabilidade e de compromisso com o mercado. É urgente que se debata o tema, mas é ainda mais urgente que isso seja feito com qualidade e consistência. A sociedade agradece.
(*) Presidente da TOTVS