As vantagens e desafios na implantação da agenda ESG nas empresas

A adoção do ESG está diretamente relacionada a melhores resultados, à atração e retenção de talentos, ao maior engajamento de stakeholders, ao menor custo de capital e a menores riscos operacionais, financeiros, de imagem e regulatórios

O ESG, sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança, tem movimentado as empresas com a adoção de práticas empresariais sustentáveis. Para o mercado financeiro, trata-se de uma ferramenta que estabelece critérios para que as empresas possam ter acesso a financiamentos com juros mais baixos. De acordo com John Elkington, considerado como o “pai da sustentabilidade”, uma organização sustentável deve ser financeiramente viável, socialmente justa e ambientalmente responsável.

Com a pandemia, o ESG ganhou ainda mais força. A relação das empresas com o meio ambiente, seus funcionários, fornecedores e clientes, as métricas e estratégias adotadas, a transparência na divulgação dos impactos e a preocupação com o greenwashing, passaram a ser temas amplamente discutidos.

Estudos indicam que a adoção do ESG está diretamente relacionada a melhores resultados, à atração e retenção de talentos, ao maior engajamento de stakeholders, ao menor custo de capital e a menores riscos operacionais, financeiros, de imagem e regulatórios.

“Os investidores incorporaram critérios ambientais, sociais e de governança na análise e na decisão da sua carteira de investimentos, sendo observados resultados positivos e ampla vantagem dos investimentos com a agenda ESG”, explica a sócia da Baker Tilly no Rio de Janeiro, Sheila Conrado.  

A ruptura da ideia de que os negócios existem somente para dar retorno aos acionistas e o processo de melhoria contínua da relação das empresas com o meio ambiente e com a sociedade indicam, cada vez mais, que este é um caminho sem retorno, e que a transparência, a prestação de contas, a responsabilidade corporativa e a equidade, princípios básicos da governança, são fundamentais nesta jornada. 

“A definição da materialidade, de metas claras e de políticas de alinhamento com todos os stakeholders, métricas para mensuração com key performance indicators bem definidos, implantação de conselhos consultivos com profissionais independentes e qualificados e transparência na divulgação das ações e resultados são apenas alguns dos desafios da jornada ESG”, comenta Sheila, que é contadora pós-graduada em Engenharia Econômica e Administração Industrial pela UFRJ.

Para ela, vale ressaltar a importância da adoção dos princípios ESG por todas as empresas, independentemente do seu porte. “A avaliação contínua do impacto do seu negócio na sociedade e no meio ambiente passa a ser uma visão de como a sua empresa pode, hoje, contribuir para um mundo melhor”, acrescenta. 

Impasses na implementação

Em matéria divulgada no site Valor Investe, de acordo com o economista e conselheiro independente de autorregulação da Febraban, Gesner Oliveira, a falta de padronização de dados socioambientais nos relatórios é um dos maiores problemas para a disseminação de políticas de ESG.

Entre as 500 empresas que fazem parte do índice S&P 500, 78% têm relatórios integrados informando dados socioambientais, mas, dessas, 97% não têm um formato único de report. De acordo com ele, os bancos, como os detentores de recursos para o crescimento das empresas, estão no centro da solução desse problema.

Nesse mesmo sentido, a sócia da Baker Tilly reforça que implantar um modelo de governança corporativa nos moldes do ESG nem sempre é considerada uma tarefa fácil. “Opiniões sobre o que são boas práticas de gestão não faltam, mas ainda há alguns impasses”, comenta.

A seguir, confira os principais desafios e os aspectos positivos da implementação, indicados por Sheila Conrado. 

DESAFIOS

o Mensuração de resultados

Para a especialista, a sustentabilidade, por exemplo, é um tema que rodeia os executivos há muito tempo. Mas o modo de avaliação e mensuração desses resultados continua sendo um desafio.

o Agenda de Desenvolvimento Sustentável 

Em 2015, a ONU propôs uma agenda de desenvolvimento sustentável composta por 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). O setor privado tem um papel fundamental neste processo.  Neste contexto, as empresas devem: definir o seu horizonte de análise, rastrear as suas cadeias de valor e manter uma comunicação assertiva.

Os gestores devem avaliar os impactos do seu negócio muito além dos aspectos financeiros. “Com o avanço das transformações causadas pela pandemia, é válido pontuar que mesmo as empresas que já praticavam a governança corporativa precisam se atualizar e adentrar nas novas regras da ESG”, frisa ela.

o Conscientização de boas ações

Segundo a profissional, os debates sobre os pilares do ESG devem ter espaço garantido durante as reuniões da alta cúpula, além de estarem presentes na consciência de toda a organização: “Essa é uma oportunidade de construir um mundo mais responsável para as futuras gerações. Para o hoje, é o momento de criar melhores ambientes, além de manter os melhores processos de administração e oportunidades de investimentos”. 

VANTAGENS

o Maiores chances de investimentos

“Muitos investidores não se satisfazem apenas com números e resultados financeiros. Hoje, eles levam em conta a conduta frente às atitudes que englobam o ESG. Adicionalmente, os órgãos reguladores, como a PREVIC e a CVM, estão reforçando cada vez mais a importância dos princípios ESG, seja nas diretrizes da política de investimento das entidades ou no destaque da divulgação dos fatores de risco sociais, ambientais e climáticos das companhias”, observa sócia da Baker Tilly.

o Sustentabilidade dos negócios

“Um ambiente de negócios com estratégias e, principalmente, com uma cultura ESG gera valor, atraindo investidores”, destaca ela. Quando a organização se preocupa em criar maneiras de produzir mais com menos desperdícios, garante a continuidade dos recursos e da matéria-prima, gerando melhores produtos, maior competitividade e, claro, melhores resultados.

o Jornada de transformação

“Podemos dizer que ESG é um caminho sem volta. Isso é muito bom, pois os stakeholders entendem que a organização não se preocupa apenas com os lucros, mas também com o impacto que as suas atividades poderão causar na sociedade e no meio ambiente”, conclui Sheila.  

Sheila Conrado, sócia da Baker Tilly no Rio de Janeiro

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