Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe
Levantamento da Febraban/Ipespe mostra população atenta e mais preocupada em proteger suas informações. Papel da tecnologia é polêmico para a maior parte dos entrevistados.
A grande maioria dos consumidores já sofreu tentativa de fraude ou conhece alguém que tenha sido vítima e está atenta e apreensiva em relação a esses crimes e violações dos seus dados pessoais. Essa é uma das principais conclusões da Pesquisa Observatório Febraban, da Febraban/Ipespe, divulgada neste mês. O levantamento também mostra que, na pandemia, o relacionamento da população com o meio digital tornou mais aguda a preocupação com a segurança diante do aumento do uso de meios eletrônicos para transações financeiras, no trabalho e nas compras.
De acordo com os dados da pesquisa, 42% das pessoas acreditam que seus dados estão mais seguros durante a pandemia; um terço (33%) acredita que estão menos seguros e 22% não identificam alteração. Já para os próximos cinco anos, 54% têm a expectativa de avanço na segurança e apenas 22% apostam que esses dados estarão ainda menos seguros. Percentual similar (19%) acredita que essa realidade não sofrerá alteração.
O papel da tecnologia na proteção de dados é polêmico. Enquanto 49% acham que o avanço da tecnologia facilita a violação de dados e as fraudes, 46% acreditam que os recursos da tecnologia ajudam a manter as informações pessoais mais seguras.
O acesso aos dados por empresas privadas e públicas é aceito em algumas situações, demonstrando que, em tese, as pessoas permitem a utilização de seus dados pessoais para melhorar a vida em sociedade: para prevenir ou evitar crimes (aceitável para 84%); prevenir fraudes e golpes com dados bancários (83%); prevenir fraudes e golpes em compras (83%); prevenir situações de suicídio e ajudar em casos de depressão (77%.); melhorar resultados educacionais (76%); desenvolver novos produtos e melhorar o atendimento aos consumidores (73%); desenvolver pesquisas médicas e científicas (71%).
Fraudes mais comuns citadas
As fraudes mais comuns citadas pelos entrevistados da região foram as que envolvem recebimento de mensagens ou ligação telefônica com solicitação fraudulenta, seja de dados pessoais ou bancários (43%), seja de depósito ou transferência de dinheiro para amigo ou parente (34%).
Além dessas: cobranças fraudulentas ou compras indevidas em seu cartão de débito ou crédito (29%); invasão do e-mail ou das redes sociais, com alguém assumindo o controle sem permissão (18%); clonagem de celular ou WhatsApp (também com 18%); tentativa de abertura de linha de crédito ou solicitação de empréstimo usando seu nome (15%); e invasão e acesso a dados bancários (14%).
A grande maioria dos entrevistados (86%) afirma ter medo de ser vítima de fraudes ou violações dos seus dados pessoais. Apenas 13% expressam pouco ou nenhum medo com essa situação.
Entre as precauções citadas para proteger os dados estão a escolha de senhas fortes (57% fazem sempre uso de senhas fortes) e a biometria (37% sempre usam). Um percentual considerável (36%) sempre ou frequentemente fornece seus dados quando realiza compras em sites ou lojas físicas; 42% fornecem às vezes e 20% nunca ou raramente o fazem.
No ambiente virtual, 33% sempre ou frequentemente aceitam a política de cookies; 36% aceitam às vezes e 27%, raramente ou nunca. Outro comportamento verificado é que 26% geram cartão on-line para uso por tempo determinado; 24% recorrem a esse serviço às vezes e 44% raramente ou nunca.
A maioria considera que a privacidade nos meios eletrônicos virou um mito, e que tudo ou a maior parte das suas informações podem ser acessadas. Por isso, é grande a cobrança por maior eficiência e endurecimento da legislação que trata da proteção de dados. A pesquisa conclui que o brasileiro está atento ao uso que as empresas privadas fazem dos seus dados pessoais.
Aumento das atividades ilícitas
O levantamento foi realizado entre os dias 18 a 25 de junho, com três mil pessoas nas cinco regiões do país. Os números comprovam a reação do consumidor diante de um já detectado aumento nas atividades ilícitas ligadas a dados pessoais.
Segundo a Febraban, no primeiro bimestre de 2021 os ataques de phishing, a chamada pescaria digital, cresceu 100% em relação ao ano passado, enquanto os golpes da falsa central telefônica e falso funcionário de banco tiveram crescimento ainda maior, de 340%.
Presidente do Conselho Científico do Ipespe, o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda destaca como resultado animador da pesquisa uma constatação: “Apesar do medo e da preocupação preponderantes em relação à segurança de dados no país, a grande maioria dos brasileiros confia nas empresas e instituições quando o assunto é proteção de suas informações pessoais”. Nesse sentido, os bancos foram citados como os mais seguros (65%), seguidos do comércio e lojas físicas (61%) e das fintechs (57%).
“Segurança digital é um tema que a sociedade precisa enxergar de frente e já está fazendo, pois diariamente esses crimes afetam pessoas e empresas, ganham espaço no noticiário econômico, político e policial envolvendo não só o cidadão, mas também grandes corporações e instituições públicas e privadas”, diz o presidente da Febraban, Isaac Sidney, que ressalta: “Um bom indicador da pesquisa é que o brasileiro está atento, sobretudo quanto ao uso que as empresas privadas fazem dos seus dados pessoais”.