Hervé Hélias: CEO e presidente do Grupo Mazars
Levantamento constatou que 93% dos usuários de auditoria acham que o mercado precisa ser reformulado e 87% são favoráveis à auditoria conjunta (joint audit)
A Mazars, firma internacional de auditoria, tax e consultoria, divulga os resultados de sua pesquisa com 500 usuários de auditoria e tomadores de decisão de 12 países em “O futuro da auditoria: visão de mercado – mitos, realidades e caminhos a seguir”.
As descobertas desafiam mitos comuns relacionados à auditoria e lançam luz sobre quatro áreas principais: o apetite por auditoria conjunta (joint audit) é maior do que frequentemente se supõe; as empresas esperam que a tecnologia capacite os diversos conjuntos de habilidades dos auditores, em vez de substituí-los; os respondentes gostariam de uma gama mais ampla, e não mais restrita, de serviços de seu auditor; e há uma desconexão entre o que as empresas veem como a ‘missão’ dos auditores e os benefícios de uma auditoria em sua empresa.
Hervé Hélias, CEO e presidente do Grupo Mazars, diz: “Ao perguntar às empresas quais são suas expectativas em relação à auditoria e aos profissionais que a prestam, o valor que obtêm dela e como o serviço pode evoluir, a pesquisa constrói uma imagem detalhada das questões que preocupam o mercado de auditoria atual. A auditoria sempre esteve no centro do que fazemos e é nossa responsabilidade trabalhar com outros para melhorar sua relevância e qualidade”. Ele acrescenta: “O interesse público está em jogo e esperamos que essas descobertas ajudem a criar uma discussão sobre a evolução necessária da profissão e a impulsionar o debate”.
Maioria significativa a favor da reforma da auditoria e auditoria conjunta (joint audit)
Realizada em setembro de 2020, a pesquisa descobriu que 93% dos usuários de auditoria acham que o mercado precisa ser reformulado; 87% são favoráveis à auditoria conjunta (joint audit) e 88% das empresas com experiência em auditoria conjunta são favoráveis a ela.
A tecnologia reforça a qualidade e capacita os auditores
Os entrevistados reconhecem que a tecnologia melhora a qualidade da auditoria e desejam que a tecnologia aprimore as habilidades dos auditores, não as substituam. Mais de nove em cada dez (93%) acham que a tecnologia economiza tempo e 92% dizem que ajuda os auditores a dar um passo atrás para analisar e questionar melhor os dados.
Os entrevistados também confirmam as habilidades essenciais de um auditor, nenhuma das quais pode ser facilmente reproduzida pela tecnologia. Os cinco atributos mais escolhidos de um bom auditor são: pensamento rigoroso e forte senso de organização (53%), pensamento crítico (50%), escuta (49%), discrição (44%) e proatividade e criatividade (44%).
Os auditores são incentivados a expandir os serviços além dos relatórios financeiros
A grande maioria (96%) incentiva os auditores a ampliar a gama de seus serviços de asseguração. Em particular, 87% são favoráveis à extensão da auditoria a novas áreas de relatórios não financeiros, por exemplo, risco climático, diversidade de gênero e direitos humanos. Ampliar a gama de serviços dos auditores pode ser benéfico para a qualidade geral da auditoria, pois as empresas precisam atrair e desenvolver talentos com ampla experiência.
Ricardo Bordignon, sócio-líder de Auditoria da Mazars Brasil, comenta que, com base em sua experiência auditando empresas brasileiras e subsidiária de empresas europeias sediadas no Brasil, a grande maioria das empresas busca um contato mais próximo com o auditor, não somente no sentido de receber mais insights sobre controles internos, mas sim na busca por soluções relacionadas à asseguração de informações não financeiras e de compliance, bem como sobre aspectos relacionados à tecnologia da informação e cybersecurity. Naturalmente, preservando todas as questões relacionadas à independência em relação à auditoria de demonstrações financeiras históricas.
A detecção de fraude não é vista como o principal objetivo de uma auditoria
Quando questionados sobre o que uma auditoria vai entregar, 74% dizem ‘uma opinião objetiva e independente sobre as demonstrações financeiras da minha empresa’, seguida por ‘asseguração e confiança para investidores, partes interessadas e reguladores’ (61%) e ‘apoio para melhorar o desempenho dos negócios’ (52%). Apenas 34% respondem ‘detecção e prevenção de fraudes’.
David Herbinet, sócio global de Auditoria da Mazars, afirma: “Existem claras concepções errôneas sobre a missão dos auditores, que sublinham a necessidade de conversas mais transparentes sobre o escopo da auditoria. Identificar todas as fraudes possíveis não faz, atualmente, parte da missão de um auditor. Na verdade, a detecção e investigação de fraudes requerem um escopo de trabalho e meios específicos – como aqueles usados em atividades forenses – do que o que uma auditoria é atualmente solicitada a entregar.”
Ele acrescenta: “É por isso que essas descobertas são tão importantes: elas apresentam a visão de mercado da auditoria hoje e permitem que todos nós exploremos o que precisa ser mudado para que a auditoria possa evoluir para suas aplicações e finalidades futuras”.
Europa mais favorável à auditoria em evolução, maioria significativa apoia a auditoria conjunta
A pesquisa duplo-cega revela que os entrevistados na Europa apoiam mais a reforma da auditoria do que no resto do mundo: 72% dizem que o mercado “absolutamente” deve ser reformulado (64% no geral). Na Alemanha, 100% dos entrevistados dizem que a auditoria deve ser reformulada (91% ‘absolutamente’), enquanto 98% na França (93% ‘absolutamente’) e 87% no Reino Unido (38% ‘absolutamente’) dizem o mesmo.
Uma maioria significativa (85%) dos entrevistados na Europa é favorável à auditoria conjunta (joint audit), com 51% ‘fortemente favorável’ e 34% ‘pouco favorável’. No Reino Unido, 89% são favoráveis à auditoria conjunta (joint audit) (53% ‘fortemente’, 36% ‘pouco’); na França, 83% são favoráveis (57% ‘fortemente’, 26% ‘pouco’); e na Alemanha 77% são favoráveis (45% ‘fortemente’, 32% ‘pouco’).
A Europa é o continente onde as ‘novas áreas’ de auditoria são mais bem recebidas: 62% dizem que os relatórios não financeiros são muito importantes, em comparação com 50% na Ásia-Pacífico e 43% na África.
Sobre esse aspecto, Ricardo Bordignon entende que com o aumento das discussões de auditoria conjunta (joint audit) na Europa e novos países começando sua adoção, como é o caso do Reino Unido, esse tipo de discussão precisa ser iniciado no mercado brasileiro. Já são constatados os vários benefícios que a auditoria conjunta (joint audit) trouxe no mercado de auditoria nos países que adotaram, dentre eles: i) estimula a competição entre um maior número de firmas de auditoria de diferentes origens culturais; ii) resulta em mais inovação e melhor resposta às necessidades do mercado; iii) permite que as empresas menores subam em uma escada de investimentos, seja em termos de cobertura geográfica, especialização no setor ou tamanho; iv) Incentiva o diálogo saudável entre as duas firmas de auditoria designadas, o que traz um olhar crítico sobre o trabalho respectivo de cada auditor; dentre outros.
Metodologia
Em setembro de 2020, a Mazars contratou a Edelman Intelligence para realizar uma pesquisa duplo-cega (o nome da Mazars não foi revelado) para identificar as percepções e necessidades das empresas (incluindo entidades de interesse público) e representantes de comitês de auditoria em relação à auditoria e seu atual revisor oficial de contas contábeis.
A pesquisa teve uma amostra de 501 respondentes, com quase metade dos respondentes baseados na Europa, sendo 211 de entidades de interesse público (todos na Europa). Todos os entrevistados ocupavam cargos estratégicos (CFOs, CEOs ou membros de comitês de auditoria) em organizações sediadas em um dos seguintes 12 países: França (18% dos entrevistados), Reino Unido (15%), Alemanha (13%), África do Sul, (9%), Austrália (8%), EUA (7%), Brasil (6%), Holanda (6%), Espanha (6%), China (5%), Índia (5%), Marrocos (1%).
Cerca de 68% dos entrevistados se identificaram como homens, 32% como mulheres. Os CFOs representaram 48% dos respondentes, os CEOs 40% e os membros dos comitês de auditoria 12%. Tamanho da organização dos entrevistados: 50-100 milhões ﹩ USD (8%) 100-200 milhões ﹩ USD (26%), 200-500 milhões ﹩ USD (42%), 500 milhões e mais de ﹩ USD (24%).