As plataformas de cibersegurança, baseadas em Inteligência Artificial, têm que se comportar como paranoicas, não acreditando em nada até prova em contrário, dentro do conceito da Zero Trust
Francisco Camargo (*)
Quando decidi usar este título do livro do Andrew Grove, engenheiro, ex-CEO da Intel, para falar de segurança da informação neste artigo, não o fiz por acaso. Diante de tantos vazamentos, invasões, roubos de identidade, não dá para deixar de ser obcecado com a proteção dos dados corporativos e dos clientes, ainda mais com o dragão da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) cada vez mais perto e com o crescente papel da Inteligência Artificial na segurança da informação.
Muito se tem falado que o elo mais fraco da segurança da informação é o ser humano.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Veritas descobriu que 71% dos funcionários no mundo e 84% no Brasil admitem compartilhar dados corporativos confidenciais e de uso restrito por meio dessas plataformas. Além disso, o percentual das pessoas que salvam suas próprias cópias dos arquivos corporativos é superior a 70%.
Sem contar a questão das senhas fáceis ou guardadas sob o teclado e os cliques em mensagens óbvias de phishing.
Com uma parte da cadeia de segurança tão vulnerável, o avanço das tecnologias de proteção de dados e o crescimento da sua adoção (o mercado mundial de segurança de endpoints cresce 4,8% ao ano, segundo a Valuate Reports) parece reforçar que essas soluções nada mais são do que babás de seres humanos ou adult baby-sitters.
Tokenização, Anonimização, Criptografia, Zero Day, Zero Trust (olha a paranoia aí de novo!), PAM (Gerenciamento de Acesso Privilegiado), Cofre de Senhas, entre outras tecnologias, foram desenvolvidas para evitar que os dados vazem por meio de quem tem acesso a eles.
O uso da Inteligência Artificial mudou a forma como a segurança da informação trabalha hoje.
A maior parte dos seres humanos não é paranoica, tem boa fé e acaba acreditando em outros seres humanos. Acredita nas informações recebidas por diversos canais, e-mails, SMS, WhatsApp, Twitter etc. Assim essas pessoas se tornam vítimas da engenharia social.
As plataformas de segurança, baseadas em Inteligência Artificial, têm que se comportar como paranoicas, não acreditando em nada até prova em contrário, pois toda informação é confidencial e este é o principal conceito por trás da Zero Trust.
Claro que existe a sofisticação de ataques, o, de novo, uso da Inteligência Artificial por parte de hackers e agora com bastante ajuda da Dark Web, com vários marketplaces de dados roubados, de vulnerabilidades críticas de softwares e de empresas, de malwares e de plataformas, que podem ser comprados ou alugados.
Soluções avançadas de proteção
Nessa guerra, os especialistas que projetam soluções avançadas para combater esses pontos fracos desenvolveram a proteção do que está mais próximo do usuário, do seu dispositivo pessoal, do seu endpoint, o XDR – Extended Detection and Response, que é a evolução do EDR, Endpoint Detection and Response.
Se o EDR agregou visibilidade e resposta automatizada para endpoints – laptops e estações de trabalho -, o XDR incluiu a análise e defesa de muitos outros pontos de dados da rede, como dispositivos IoT, celulares, aplicativos nativos em nuvem, e-mails e, mesmo, contêineres.
Para detectar e responder de forma automatizada, as soluções de XDR baseadas em Inteligência Artificial correlacionam dados de diversas camadas de segurança para além do endpoint – aplicações de mensagens, rede, identidade etc. – aprimorando sobremaneira a detecção tanto de vazamentos internos como de tentativas externas de invasão.
Como diz a sabedoria popular, é melhor prevenir do que remediar e, em questões de cibersegurança, de fato, só os paranoicos sobrevivem e é para isso que estão usando a Inteligência Artificial, para desconfiar daquilo em que acreditamos.
(*) Fundador e CEO da CLM, distribuidor latino-americano de valor agregado com foco em segurança da informação, proteção de dados, infraestrutura para data centers e cloud