Crônica da morte anunciada das PMEs sem compliance

Para evitar esse tipo de situação, a tendência é  a imposição crescente nos negócios para que as empresas de todos os portes adotem práticas de compliance

Alexandre Pegoraro (*)

Depois de muito sonho, trabalho e expectativa, finalmente a pequena ou média empresa consegue fechar contrato com uma multinacional com centenas de unidades espalhadas pelo país. A partir de então, as perspectivas de crescimento se tornam mais reais. Basta entregar com eficiência o prometido no escopo do contrato e os próximos anos serão de avanço a patamares nunca imaginados pelos seus fundadores.

Cena 1 – O trabalho começa a ser executado, mas no primeiro dia de trabalho de um colaborador deste empreendimento se envolve numa confusão com um cliente da multinacional. Eles trocam ofensas e agressões. O cliente da multinacional é negro. Ele morre após o atrito.

Cena 2 – A imprensa e os órgãos de investigação entram a todo vapor no caso que ganha repercussão nacional. Logo começam a surgir informações como: o trabalhador da PME envolvido no caso não poderia desenvolver aquela função. Seu nome aparece em confusões ocorridas no passado. A própria PME em questão não tem toda a documentação necessária para prestar aquele tipo de serviço. E assim por diante.

Cena 3 – A multinacional é acusada de praticar racismo e tem suas unidades vandalizadas pela população. A imprensa e as autoridades cobram explicações e atitudes em relação ao caso.

Cena 4– Acuada e sem alternativas, a marca global anuncia: o contrato com a PME será rescindido.

Fim da história. Além de ver morrer os planos de crescimento a pequena ou média empresa terá muita dificuldade, a partir deste momento, de fechar qualquer outro contrato por conta dos prejuízos causados à sua marca.

Qualquer comparação com casos ocorridos recentemente não é mera coincidência e revela o risco que as PMEs correm ao não priorizarem o compliance como objetivo estratégico em suas operações.

O final triste da história narrada acima poderia ter sido facilmente modificado com a utilização dos serviços das plataformas de compliance, que conseguem pesquisar em minutos, a partir do CPF ou CNPJ, mais de 2 mil fontes para conferir tanto a idoneidade das pessoas na hora da contratação quanto às condições pregressas das empresas com as quais se pretende estabelecer contatos.

As informações são procuradas junto a processos em todos os tribunais brasileiros, Ministérios Públicos do Trabalho, COAF, OFAC, FATCA, OIT, assim como em cadastros negativos de crédito como Serasa e SPC para detectar a existência de cheques sem fundos e protestos, por exemplo.

Com isso, o risco de enviar para aquela unidade da multinacional uma pessoa cujas atitudes do passado pudessem revelar algum risco de fazer o que fez, seria mitigado.

Felizmente, o interesse das PMEs por compliance tem crescido muito nos últimos tempos. Uma pesquisa feita pelo hub de serviços e conteúdo CompliancePME detectou um crescimento de 275%na busca por informações sobre melhores práticas entre janeiro e julho deste ano.

Para evitar novas crônicas da morte anunciada dos sonhos das PMEs, a tendência é de uma imposição cada vez maior do ambiente de negócios para que as empresas de todos os portes adotem práticas de compliance, que permitam uma base de confiança suficiente em pilares como:

· Know Your Customer (KYC) “conheça seu cliente”. Ter informações financeiras, jurídicas e outras, para gerar transparência nas relações com clientes e os prospects.

· Know Your Employee (KYE) “conheça seu funcionário”. Adoção de fortes políticas de admissão e contratação de funcionários.

· Know Your Partners (KYP) “conheça seu parceiro”. Esses processos vêm ganhando adesão como maneira de evitar fraudes, uma vez que a maioria dos registros em empresas tem participação ativa de funcionários, parceiros e fornecedores ou pelo menos algum grau de facilitação por essas partes.

· Know Your Supplier (KYS) “conheça seu fornecedor” processo que assegura a relação com todas as empresas e entidades com as quais a organização se relaciona, organizando toda a sua cadeia de suprimentos.
Em termos de história, essa parece ser a única chance de finais felizes.

(*) CEO da Kronoos Soluções

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