Francisco Sant’Anna, presidente do Ibracon
Segundo a entidade dos auditores, ainda falta uma padronização e um arcabouço consistente que permita uma efetiva comprovação do que é divulgado nos documentos das empresas
As questões ambientais e sociais estão cada vez mais presentes na atuação das companhias, mas a forma como essas informações são apresentadas ainda requer atenção. Conforme alerta o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), os relatórios de sustentabilidade que são apresentados não seguem uma padronização que permita fazer uma asseguração confiável, assim como é feito no caso da auditoria de demonstrações contábeis.
“No caso da auditoria independente, com base nas Normas Internacionais, é possível opinar se as demonstrações contábeis preparadas pela administração das companhias representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, sua posição patrimonial e financeira e o seu desempenho. Mas, no caso dos Relatórios de Sustentabilidade, não é possível fazer isso”, explica Francisco Sant’Anna, presidente do Ibracon.
“Ainda falta um arcabouço consistente, com ampla adesão das empresas e aceito internacionalmente, que consiga definir parâmetros passíveis de comparabilidade que possam ser assegurados”, completa ele.
No Brasil, há diversas iniciativas em andamento, com a predominância da utilização do modelo do Relato Integrado, do International Integrated Reporting Council (IIRC), e a contratação de auditorias para trabalhos de asseguração e procedimentos previamente acordados.
Discussões no Brasil e no Exterior
Para avançar no tema, o Instituto está participando, no Brasil, das discussões promovidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) para a adoção do Relato Integrado. Internacionalmente, a entidade está contribuindo com o debate sobre o processo de asseguração desses tipos de relatórios, junto ao Conselho Internacional de Normas de Auditoria e Asseguração (IAASB, na sigla em inglês).
“A retomada econômica do Brasil e do mundo, no período pós-pandemia, estará muito atrelada a questões ambientais e sociais. Por isso, as companhias que se prepararem adequadamente para mostrar suas ações com clareza e transparência terão vantagens”, contextualiza Sant’Anna.
“A grande verdade é que já foi o tempo em que investidores, individualmente ou através de fundos estruturados, consideram somente as informações contábeis para a tomada de decisão de investimentos. A preocupação genuína das entidades com aspectos ambientais, sociais e de governança, bem como com uma forma uniforme e transparente de relatar esses compromissos e atividades, conta hoje com uma demanda bastante crescente e relevante”, completa.