Expansão das lawtechs reflete o rápido avanço da tecnologia no meio jurídico

Novas soluções permitem que o advogado tenha tempo para focar no seu cliente, nas análises de dados e no desenvolvimento de estratégias, sem perder tempo com atividades acessórias.

Douglas Guergolette Alfieri (*)

O avanço da tecnologia no meio jurídico é cada vez mais rápido. Basta olhar a evolução da quantidade de legaltechs e lawtechs (empresas de tecnologia voltadas para a área jurídica) da AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs). Podemos comparar o número com o primeiro radar, lançado em outubro de 2017 durante o evento Lawtech Conference.

Se observarmos o mercado americano de legaltechs, considerado muito mais maduro do que o brasileiro, também podemos encontrar soluções inspiradoras e que mostram o quanto ainda podemos progredir.

As soluções são as mais diversas e exigem uma reanálise da forma de atuação do profissional do Direito. Não só como advogado, visto que cada vez mais este profissional vai focar seu conhecimento e experiência em uma atuação mais preventiva e preditiva ou ainda identificando a real necessidade do cliente que muitas vezes diverge daquilo que o cliente acredita precisar, mas também em novos ramos de atuação, especialmente em lawtechs, onde pode atuar em diversas frentes, tanto como empregado, advogado propriamente dito e consultor. Isso sem falar que o próprio profissional pode inovar e abrir sua própria lawtech. São muitas as possibilidades.

Hoje as lawtechs estão cada vez mais inovadoras, e as ferramentas vão desde o mais básico cálculo de prazos até a mais complexa implementação de Inteligência Artificial para o desenvolvimento automático de peças processuais. Mas uma coisa todas as lawtechs têm em comum: garantir que o advogado tenha cada vez mais tempo para focar no seu cliente, em análises de dados, desenvolvimento de estratégias, em utilizar de fato seu conhecimento e experiência, sem perder tempo com atividades acessórias.

Avalanche de soluções

O impacto dessa avalanche de soluções no meio jurídico é gigantesco e demandou uma modificação drástica em grandes bancas. Hoje, investir em tecnologia na área jurídica é estratégico e quem ainda não implementou nenhum tipo de tecnologia já está atrasado. Mas ainda há tempo, só não pode continuar parado.

A implementação de diversas ferramentas faz repensar até mesmo a forma de cobrar pelos serviços advocatícios, visto que, por exemplo, há pouco tempo, certos contratos levavam horas ou até dias para serem redigidos. Hoje existem ferramentas que permitem que um contrato seja feito em poucos minutos, cabendo ao advogado apenas revisá-lo e complementá-lo, sendo possível até mesmo assiná-lo sem precisar enviar o documento às partes.

No início da implementação do processo eletrônico no Brasil, foi necessária uma mudança no trabalho dos advogados. O acesso à informação se tornou muito mais fácil e hoje é ainda mais. No entanto, com tantos dados disponíveis, o profissional deve ser capaz de identificar dados de qualidade e de analisá-los de forma inteligente. Manualmente, são tarefas longas e difíceis, mas, com ferramentas de Analytics e BI (Business Intelligence), em poucos minutos o advogado consegue ver um panorama que sozinho dificilmente seria capaz.

Departamentos jurídicos podem utilizar-se hoje de ferramentas como a Jurimetria para conseguir prever a eficácia de teses, a inclinação das decisões de determinados juízes e utilizar toda essa inteligência de dados em favor do seu cliente.

Tendência mundial

Isso é uma tendência mundial. É um mundo completamente novo, mas que, em geral, traz muitos benefícios, tanto para os profissionais que atuam na área, como para a sociedade como um todo, que caminha para poder ver uma justiça rápida, eficiente, eficaz. Afinal, o Judiciário brasileiro em geral ainda é muito lento e a justiça tardia. Como já dizia o ilustre jurista Ruy Barbosa, a justiça tardia não é justiça. Mas com a tecnologia temos muitos bons exemplos de melhoria na celeridade processual, que podem trazer a efetiva justiça de que precisamos.

Obviamente que, com tanta tecnologia, também há que se levantar questões como segurança da informação e privacidade. Sempre que se pensar em implementar uma nova tecnologia, estes devem ser os principais pontos a serem observados. Os desenvolvedores e empreendedores já estão cientes disso e, cada vez mais, buscam apresentar soluções já tendo em mente formas de garantir ao máximo a privacidade e a segurança.

Devemos nos lembrar, no entanto, que não existe nada que seja 100% seguro e privado. Então os profissionais devem analisar e implementar as tecnologias, usá-las a seu favor, mas devendo sempre ser cautelosos, de modo que sintam apenas o impacto positivo e evoluam junto com esse (não tão) novo mundo.

(*) Consultor de inovação da Advise e advogado sócio do escritório Alfieri e Tragino Advogados Associados

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